O Que Você Faria?
Nota: 7
No dia de uma reunião do G-8 em Madri, marcado por manifestações antiglobalização, sete executivos disputam uma vaga em uma empresa espanhola. Eles participam de um inusitado teste de seleção conhecido como Método Gröholm. Trancado em uma sala, o grupo tenta descobrir qual é o agente da empresa infiltrado entre eles, desmoralizar os oponentes etc.
Defendidos por excelentes atores espanhóis e argentinos, os personagens funcionam como símbolos. Carlos (Eduardo Noriega) e Nieves (Najwa Nimri), amantes no passado, são representantes da juventude tecnocrática. Já Fernando (Eduard Fernández) e Ana (Adriana Ozores) são veteranos que não conseguem encontrar um lugar na nova ordem.
Visto de dentro, o trabalho pode até ser o que mais dignifica o homem. De fora, as disputas e a concorrência muitas vezes desleal tornam os habitantes desse mundo parentes próximos daqueles que vivem em jaulas.
No cinema recente, essa visão ganhou foco em filmes como A Agenda (Laurent Cantet), O Adversário (Nicole Garcia) e O Corte (Costa-Gavras), em que o mal-estar contemporâneo da precariedade dos laços e dos compromissos é visto a partir da perspectiva de que o abalo da base material, devido ao desemprego, faz vir abaixo todo o edifício dos outros valores.
O argentino Marcelo Piñeyro retoma a idéia em O Que Você Faria, em que sete candidatos a uma vaga de executivo em uma multinacional exercitam suas habilidades em um esforço assumido de eliminar-se mutuamente. Piñeyro trata o mundo da competição brutal apropriando-se, de maneira sutil, do dispositivo de eliminação popularizado pelos "reality shows" da televisão.
Em vez da onipresença das câmeras, como em "Big Brother" e outras anomalias do entretenimento, o diretor argentino retém o princípio de base de todos esses programas. A saber: desde que movidos exclusivamente pela ambição da vitória, os indivíduos passam a enxergar o outro apenas como ameaça, perde o sentido qualquer exercício racional de negociação e entra em vigor um simplista e primário desejo de eliminação.
Em vez de emular os cansativos dispositivos do "reality show", Piñeyro testa a hipótese subjacente a esses programas sob a forma de um drama claustrofóbico. Ao não optar pela imitação, ele usa o cinema como instrumento para devolver à suposta realidade do "reality" aquilo que ela perdeu: o sentido de valor.
A força da situação inicial cede espaço a truques fáceis de roteiro. O que Você Faria? é muito mais satisfatório na apresentação dos personagens do que na resolução de seus conflitos.
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