30 agosto 2006

Café da Manhã em Plutão



Nota: 6

O diretor Neil Jordan, cujo filme de 1996 Nó na Garganta foi baseado em um romance do irlandês Patrick McCabe, volta a colaborar com o escritor em Café da Manhã em Plutão. Jordan se volta mais uma vez a um universo marginal e violento. Desta vez, porém, seu protagonista enxerga apenas o lado positivo da vida.

A história faz paralelos evidentes com Traídos pelo Desejo, premiado com o Oscar em 1992 e também de Jordan. O longa conta a vida excêntrica de um certo Patrick "Kitten" Braden, travesti desatento que se envolve com o Exército Republicano Irlandês (IRA) enquanto procura sua mãe, com quem perdera contato anos antes. Mas, diferente de Traídos pelo Desejo, Café da Manhã em Plutão não tem nenhuma grande surpresa no final, o que é uma pena. A produção em clima alegre e a trilha sonora descompromissada dos anos 1970 carregam o filme até certo ponto, mas a narrativa não se sustenta por todos seus 135 minutos de duração.

Depois de atuar em Vôo Noturno e Batman Begins (ele era o Espantalho), o ator Cillian Murphy passa batom para assumir o papel de Patrick "Kitten" (gatinho), um rapaz (ou moça) delicado com voz sussurrante que o faz soar como um Michael Jackson irlandês. Abandonado por sua mãe quando era bebê, Kitten passa sua adolescência experimentando os vestidos de sua meia-irmã e escandalizando seu pequeno povoado irlandês de várias outras maneiras.

Quando atinge a idade necessária para poder pedir carona, ele parte numa busca para encontrar sua mãe e, nesse percurso, topa com uma sequência de personagens bizarros e interessantes, começando por Billy Rock (Gavin Friday), vocalista de uma banda de rockabilly que incorpora maquiagem espalhafatosa e temas de faroeste. Kitten se envolve romanticamente com Billy.

Mais ou menos ao mesmo tempo, ele também se envolve em atividades do IRA, sem ter consciência disso, e é então que sua vida realmente se torna problemática. Embora possa ter funcionado bem em formato de livro, a justaposição das loucas escapadas de Kitten com um período sangrento e tumultuado da história irlandesa, sem se interessar por política ou coisas sérias, apenas por futilidades e luxo, não chega a convencer muito na tela. O resultado final parece um conceito muito mais forçado do que inspirado.

O que é igualmente problemático é que o personagem de Kitten, conforme é apresentado por Jordan e McCabe, não é suficientemente interessante para conquistar a adesão do espectador, apesar da performance engajada de Murphy, que remete à atuação mais provocante de Gael Garcia Bernal em A Má Educação, de Pedro Almodóvar.

Há atuações coadjuvantes divertidas de vários colaboradores passados de Neil Jordan, incluindo Liam Neeson como padre que tem uma ligação secreta com o passado de Kitten, Stephen Rea no papel de mágico solitário e apaixonado e Brendan Gleeson como personagem de parque temático infantil chamado Titio Bulgária.

E é difícil fazer qualquer crítica a uma trilha sonora que consegue incorporar Van Morrison, Bobby Goldsboro, Harry Nilsson e a banda britânica Middle of the Road, cuja canção ridiculamente contagiante "Chirpy Chirpy Cheep Cheep" cria o desejado tom amalucado que o filme tenta, mas não consegue manter até o final.