01 junho 2006

X-Men: O Confronto Final



Nota: 6

É bem provável que uma grande parte dos admiradores da série X-Men, que trouxe para o cinema a saga dos mutantes dos quadrinhos criada em 1963 por Stan Lee, fique decepcionada com o destino de alguns personagens no episódio final.

Não, o filme não é ruim. Acontece que, quando se trata de histórias de super-heróis (ou mesmo de super-vilões), o debate ocorre no campo das paixões, e alguns fãs mais exaltados poderão ficar desapontados com o destino daqueles que podem vir a ser seus alter-egos, já que diversos heróis e vilões morrem.

X-Men - O Confronto Final (ou X-Men 3, como vem sendo chamado informalmente), como o nome diz, coloca o time de mutantes em uma batalha decisiva contra os seres humanos. Tudo porque o pai do Anjo (Ben Foster) desenvolve uma arma química para "curar" seu filho - e, por conseqüência, todos os outros mutantes-- daquilo que a humanidade toda considera ser uma doença.

Este é o grande debate que o longa propõe, pois a decisão pela cura coloca os mutantes em conflito, já que alguns, como a Vampira (Anna Paquin), em crise por não poder tocar/beijar/transar com seu namorado Homem de Gelo (Shawn Ashmore), passa a acreditar que essa é a solução para seu problema.

Enquanto isso, Tempestade (Halle Berry), Magneto (Ian McKellen), Mística (Rebecca Romijn) e Pyro (Aaron Stanford) acham a idéia da cura absurda, pois não consideram sua mutação uma doença.

Aqui entra a polêmica, afinal, o enredo coloca em xeque o direito à diferença. Halle Berry e Hugh Jackman (o Wolverine) já disseram que, em sua interpretação, o mutante seria o estrangeiro. "Ao viver nos Estados Unidos como uma mulher negra, tive de me sujeitar a regras que fazem os imigrantes se sentirem como vítimas. Nem sempre apóio o meu governo", declarou a atriz, que também relatou dramas psicológicos vividos em sua infância.

"É um assunto contra o qual tive de lutar a vida toda. Quando era criança, acreditava que se mudasse a mim mesma, minha vida seria melhor. À medida que crescia, percebi que isso era uma grande bobagem", revelou.

Na verdade, além das diferenças sociais dos mutantes (a maioria deles, recrutados por Magneto para a batalha contra os humanos, é criminosa ou vive no submundo), seu maior problema é o fato de serem biologicamente diferentes, o que põe em voga questões de raça e sexualidade.

Mística (Rebecca Romijn) sofrerá sua mais dramática transformação
Ian McKellen, o Magneto, homossexual assumido e um dos maiores atores ingleses, considera a premissa da "cura" absurda. "É um aberração. Como seria se uma pessoa me dissesse que eu tenho de curar a minha sexualidade, ou se alguém dissesse aos negros que eles poderiam tomar uma pílula que iria 'curá-los' do fato de serem negros?"

Muitos mutantes dos quadrinhos foram deixados de fora desta trilogia, como Gambit. Mas um dos X-Men "clássicos", como chamam os mais aficcionados, tem papel de destaque. Trata-se do intelectual Fera (Kelsey Grammer), cuja aparência pouco humana coloca-o em conflito quanto à cura. "Ao contrário dos outros X-Men, sua mutação não é escondida. Mas ele percebe que ser comum não é seu destino", declara Grammer.

Paralelamente ao debate político-social, desenvolve-se uma trama mais próxima à dos quadrinhos: o ressurgimento de Jean Grey (Famke Janssen) sob a forma da Fênix Negra. Depois de ser engolida pelas águas do lago Alkali, a doutora reaparece e, então, revela-se uma faceta de sua personalidade completamente aterrorizante.

"Fomos inspirados por uma trama específica dos quadrinhos que nunca havia sido feita antes: transformar um herói em vilão", destaca o roteirista Simon Kinberg. Já a atriz Famke Janssen diz que a mudança era "esperada pelos fãs do quadrinhos" e "chocará as platéias do filme".

A história de X-Men 3 pode não retratar com fidelidade o que foi para os quadrinhos em 30 anos de existência. Também haverá quem considere que a escolha dos personagens pode ter privilegiado esse ou aquele mutante, mas há, pelo menos, três méritos nessa trilogia cinematográfica.

O primeiro é o fato de ter reunido o mesmo elenco, o que garantiu a integridade das seqüências. Em segundo lugar, a uniformidade do roteiro também foi mantida, apesar de os dois primeiros filmes terem sido dirigidos por Brian Singer e, este último, por Brett Ratner, que, em momentos pontuais, faz concessões ao moralismo hollywoodiano.

O outro mérito é o fato de que a trilogia de X-Men pode despertar nos não-iniciados a curiosidade por uma das histórias mais interessantes, pluralistas e criativas da história da indústria dos quadrinhos, pois sua essência foi conservada.

Por fim e por último: não banque o apressado e espere os créditos do filme. Há uma cena extra que conclui muita coisa.