A Profecia
Nota: 5
Este remake de A Profecia (The Omen, 2006) é de dar medo. Infelizmente, o medo não é daqueles que faz o espectador grudar na cadeira, começar a roer as unhas e agarrar com força o braço da pessoa do lado - seja ela um namorado(a) ou um providencial desconhecido(a). O medo que surge é o de imaginar onde vai parar esta ganância de Hollywood.
O único motivo visível para a existência deste projeto é o de tentar lucrar em cima de uma data que só vai se repetir daqui a 100 anos, o tal 6/6/6 (o temido número da besta), que fez inclusive o filme estrear mundialmente numa incomum terça-feira. Será que os engravatados acham mesmo que as pessoas vão correr para dentro de um cinema num dia de semana por causa de três ou quatro sustos? Sim, porque o filme não é mais do que isso. Se você for ao cinema esperando todo aquele clima sombrio e apavorante de um verdadeiro clássico do suspense como O Exorcista (1973), vai se decepcionar. Este remake não consegue causar grandes sensações... hmmm, talvez o ódio - de estar ali no cinema perdendo tempo enquanto podia estar fazendo algo melhor em outro lugar.
Não sei se foi a falta de tempo (para conseguir terminar o filme a tempo), ou realmente uma falta de criatividade, mas este remake acabou saindo fiel até demais ao seu original, chegando ao ponto de remontar cenas e mortes tais quais elas foram mostradas em 1976, apenas dando uma ligeira maquiada. Se era pra fazer igual, então por que gastar tempo e dinheiro? Bastava fazer uma grandiosa campanha de marketing e trazer o "classico" de volta ao cinema, com direito a "versão do diretor" ou qualquer outro tipo de rótulo caça-níquel que depois dá direito a faturar também com a venda de DVDs.
Uma das poucas mudanças em relação ao original fica na tentativa de explicar catástrofes recentes, como os atos terroristas de 11 de Setembro e Tsunami como provas da chegada do Filho do Demônio à Terra e o conseqüente "início do fim". Sobre as mortes, duas delas até ficam mais interessantes, mas nada que faça valer a saída a uma sala de cinema. Me parece mais vantajoso esperar o relançamento em DVD da tetralogia, ou então - se você quiser mesmo ver como ficou o remake - esperar a sua chegada ao formato digital, que - tudo leva a crer - deve ser feito numa sexta-feira 13 ou no próximo Halloween, enfim uma data comercialmente aterradora dessas.
A história, caso você ainda esteja interessado, começa quando um jovem diplomata norte-americano (Liev Schreiber irreconhecível) e sua esposa (Julia Stiles apenas regular) perdem o filho na sala de parto. (E aqui vale um parêntese: o filme não explica, mas o material distribuído à imprensa diz que a mulher já havia perdido outros dois filhos antes). Quem dá a notícia da perda é um padre, que já vem com a solução perfeita: no mesmo horário em que eles perderam o filho, uma criança nasceu e perdeu a mãe. Se ele aceitasse levar o menino para casa, ninguém jamais ficaria sabendo do fato. Troca feita, o pequeno Damien (Seamus Davey-Fitzpatrick - freakshow) vai crescendo normalmente, até que no seu quinto aniversário acontece uma catástrofe. Daí em diante, é só correria pra cá, susto pra lá e tome mortes bizarras! Tudo coisa do Demo, claro!
Os fãs do gênero, que gostam de ir ao cinema atrás de uns dois ou três sustos causados pela combinação de mudança de câmera mais som estridente (incluindo aí a famigerada cena do espelho - sim, ela de novo!) poderão sair do cinema felizes. Os cinéfilos, que prezam os seus 15 reais, sairão com a certeza de que em algum lugar o Coisa-Ruim está rolando de rir depois de ter aprontado mais uma das suas.
Um dos principais problemas da refilmagem está aí: o original consegue manter algum suspense (graças à direção e aos bons atores) quanto à possibilidade de o garoto ser ou não o capeta. Diferentemente daquele Damien empático, aqui o menino é o coisa-ruim desde que o vemos surgir. Mas comparar este filme de John Moore com o primeiro, de Richard Donner, é covardia. O original, que seguiu a onda dos bem-sucedidos suspenses em que uma criança aparecia como veículo para o capeta - vide O Bebê de Rosemary (1968) e O Exorcista (1973)-, tinha os gigantes Gregory Peck e Lee Remick onde hoje estão os quase anônimos Liev Schreiber e Julia Stiles, respectivamente. Tinha também uma preocupação em fazer um suspense sem sustos fáceis, amparado no bom roteiro, na direção e na impecável trilha sonora (vencedora do Oscar de 1977). Aqui, o diabo quase veste Prada: os cenários são chiques, "clean", com uma insistência desnecessária na simbologia do vermelho e em analogias com acontecimentos recentes, como o 11 de Setembro e o tsunami.
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