Ritmo de um Sonho
Nota: 8
Às vezes é preciso o filme certo para mostrar o valor de um ator. Este é o caso do ótimo Terrence Howard, que até agora nunca passara de coadjuvante, apesar de escalado em filmes importantes como Ray e Crash - No Limite.
No drama musical Ritmo de um Sonho, que estréia na sexta-feira, Howard demonstrou seu talento como protagonista com tamanha garra que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar de melhor ator, concorrendo neste domingo com o favorito Philip Seymour Hoffman, que muitos consideram imbatível em Capote.
Mesmo que não vença a estatueta, como é provável, Howard terá muitos motivos para sentir-se um vencedor. Ele convence totalmente na pele de DJay, um cafetão e traficante das ruas de Memphis, que ensina filosofia barata às suas protegidas enquanto esperam por clientes. O engraçado de toda a história, é que os dois filmes sobre música que estão em cartaz atualmente (esse e o de Johhny Cash), invocam Memphis como "lar da música". Para os desavisados, ali nasceu Elvis Presley.
O personagem nem tem muitas aspirações na vida, até quando reencontra o velho amigo Key (Anthony Anderson, conhecido por seu trabalho em comédias como Canguru Jack e Todo Mundo em Pânico 3, aqui numa eficiente performance dramática).
Acompanhando o amigo numa gravação de música gospel, DJay fica tão emocionado que chega a chorar. A música acaba de entrar em sua vida. Ainda que o que ele tem em mente seja um estilo inteiramente diferente daquele que acabou de ouvir, Djay quer tornar-se um astro do rap.
Com a ajuda de Key, ele monta um pequeno estúdio improvisado na sua casa, onde mora com algumas de suas "funcionárias", uma delas grávida. Ele tenta superar as dificuldades de produzir uma fita demo para entregar ao famoso Skinny Black (o rapper Ludacris), que é o mais aclamado do momento. Porém, como era de se esperar, o caminho para a fama e o sucesso não é fácil. Para subir na vida é preciso puxar alguns tapetes, segundo o longa escrito e dirigido por Craig Brewer.
DJay é um personagem que desperta simpatia e ao mesmo tempo repreensão. Afinal, por mais bondoso que ele seja com suas protegidas, ele não deixa de explorá-las e, eventualmente, é violento com elas. Por outro lado, fica claro que ele tem bons sentimentos e muita inteligência, condições capazes de fazer com que se torne outra pessoa.
O filme não faz uma crítica contundente sobre a condição de miséria a que os negros são relegados pela sociedade, que inclusive prega que devemos consumir para estar inseridos, mas mesmo não criticando acidamente a questão social, Ritmo de um Sonho vai mais longe do que noventa porcento das produções com negros norte-americanos. Ritmo de um Sonho coloca o quanto as pessoas estão atreladas a sua origem. Mudar o status social, assim, depende tanto de um golpe de sorte quanto de talento. Howard, por sua vez, brilha em meio a esse caos urbano e se revela um grande ator, humanizando um personagem que, nas mãos de outro, poderia ser um mero estereótipo ambulante.
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