20 fevereiro 2006

O Segredo de Brokeback Mountain



Nota: 2

Tudo o que você sempre imaginou sobre os personagens de John Wayne e Montgomery Clift no clássico do faroeste Rio Vermelho (1948) é revelado candidamente em O Segredo de Brokeback Mountain, do diretor Ang Lee. O filme é um épico sobre o amor proibido.

O conto que Anne Proulx escreveu em 1997 para a revista New Yorker foi habilmente expandido pelos roteiristas Larry McMurtry e Diana Ossana, dando ao diretor taiwanês a chance de mostrar seu trabalho mais aplaudido desde Razão e Sensibilidade, de 1995.

Com imagens filmadas nas Montanhas Rochosas canadenses e com um bom elenco liderado por Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, Brokeback Mountain acaba sendo tendencioso demais, investindo muito em um amor homossexual, mostrando que o resto nada vale. Querendo chamar a atenção e chocar, o diretor resolve mostrar um amor gay, proibido, enquanto que as relações heterossexuais com suas mulheres, são tratadas com displicência e descaso no filme. Pouco importando a relação de amor dos homens com suas mulheres e filhas, o diretor nos leva por um caminho de irresponsabilidades e tentações do amor, onde mais vale o sexo e o prazer, do que a vida em família. Não sei para que eles resolveram casar e ter filhos se só queriam ficar os dois juntos. Sendo hetero ou homossexual a relação, você tem que pelo menos ter responsabilidades pelos seus atos. O diretor nos mostra dois homens, que durante cerca de vinte anos se mantiveram como adolescentes, rejeitando o mundo ao seu redor, mesmo usando o mesmo, sendo egoístas e egocentricos.

O filme, que ganhou o Festival de Veneza de 2005, foi indicado para 8 categorias do Oscar, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator (para Ledger). A trama segue dois homens, Ennis Del Mar (Ledger) e Jack Twist (Gyllenhaal), e o amor que sentem um pelo outro, mas que devem manter escondido do mundo conservador e fechado do Oeste americano, temendo não apenas o escândalo como também por suas próprias vidas.

Ennis e Jack se encontram pela primeira vez no verão de 1963, quando buscam trabalho em uma fazenda de Brokeback Mountain, Wyoming, de propriedade do rancheiro Joe Aguirre (Randy Quaid). Não há nada muito romântico em tocar enormes rebanhos de gado pelos campos. Ao contrário, tocar o gado sempre foi mostrado como um trabalho duro nos velhos faroestes, mas Ennis e Jack conseguem se divertir com ele, mesmo quando suas dietas consistem apenas em feijão.

Os dois não conversam muito, mas Ennis deixa a entender que foi criado por seus irmãos depois que seus pais morreram em um acidente de automóvel. Ele fala sobre uma mulher chamada Alma com quem pretende se casar. Jack conta sobre seus pais rígidos e sobre o trabalho no circuito de rodeios do Texas. O cenário é de tirar o fôlego, embora a rotina dos vaqueiros seja dura, com ursos e coiotes ameaçadores, além do frio da montanha. Logo, os dois passam a confiar um no outro totalmente.

Certa noite, Ennis decide dormir perto do fogo em vez de sozinho em seu posto, mas durante a madrugada, com a fogueira apagada, ele começa a congelar. Jack então grita para que ele entre em sua tenda. Um simples gesto humano que leva a uma transa frenética, que à luz fria da manhã os dois rapidamente ignoram. O verão termina e chega o momento de Ennis se casar com Alma (Michelle Williams), enquanto Jack se casa com Lureen (Anne Hathaway), e os dois têm filhos.

A paixão entre os dois homens continua, e a afeição e a necessidade que um sente pelo outro crescem. Conforme passam os anos, eles planejavam passar um tempo juntos em Brokeback Mountain. Mas há sempre a ameaça de se expor e o medo que isso alimenta. Os roteiristas McMurtry e Ossana, que se debruçaram sobre o projeto durante oito anos, usam uma ampla tela para o que na verdade é uma história muito íntima.

Eles desenvolvem os personagens secundários com grande compaixão e discernimento. As mulheres nas vidas de Ennis e Jack recebem toda a atenção, e a atuação, principalmente de Williams, Hathaway e Kate Mara, como a filha de Ennis de 19 anos, é profundamente comovente. Mas elas são tratadas exatamente como secundárias no filme, como mulheres que serviram a sua finalidade: entreter os homens. Eis o paradoxo: mais machista impossível.