Meu Irmão Quer Se Matar
Nota: 6
A diretora dinamarquesa Lone Scherfig entrou para a história do cinema quando seu filme Italiano para iniciantes (2000) foi um dos primeiros a levar o selo Dogma 95, movimento dinamarquês de regras rígidas que extirpa da nona arte recursos técnicos que potencializam a ilusão do cinema e, de acordo com o manifesto, massificam a produção da arte, enganando a audiência.
Dois anos depois de colher os louros da missão cumprida dentro do voto de castidade dogmático, Scherfig dirigiu Meu Irmão Quer Se Matar (Wilbur Wants To Kill Himself, 2002). O novo filme engaveta a rigidez da produção anterior, mas mantém algumas das lições aprendidas. Ganha, principalmente, a estética.
A história segue a simplicidade associada ao Dogma 95: um homem comum, dono de livraria em dificuldades financeiras, tem que lidar com as tendências suicidas de Wilbur, seu irmão. Em meio às idas e vindas ao grupo de apoio a suicidas no hospital local, ele se apaixona por uma frequentadora de sua loja.
Os acontecimentos são naturais e, apesar de dramáticos - estamos lidando com a morte -, não desprovidos de humor. Bastante sutil, é verdade, mas ele existe em pequenos detalhes. Como as desventuras amorosas do charmoso Wilbur, que em certo momento tenta encontrar nas mulheres uma razão para viver.
Toda a carga dramática repousa sobre os ombros dos carismáticos protagonistas: Adrian Rawlins (Harbour, o irmão mais velho), Jamie Sives (Wilbur) e Shirley Henderson (a "Murta-Que-Geme" de Harry Potter, que vive Alice, a freguesa). Os três fazem um trabalho contido e carregado de interesse pelos personagens.
Mas talvez o ponto mais interessante de Meu Irmão Quer Se Matar seja a maneira como Scherfig explora o relacionamento dos três e da filha de Alice, Mary (Lisa McKinlay), que formam uma curiosa jovem família. Ela é absolutamente imparcial e deixa nas mãos do público a interpretação dos fatos e o entendimento dos personagens, algo louvável numa época em que os bombásticos eventos do cinema atual pedem uma reação quase imediata dos espectadores, geralmente guiada pela mão do diretor. Eis a imparcialidade aprendida com o Dogma 95, mas sem a rigidez técnica do movimento.
O resultado é sereno, sem grandes lágrimas ou alegrias, apesar do tema. Um filme que não despertará paixões, tampouco detratores ferozes.
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