28 setembro 2005

Sal de Prata



Nota: 6


A metalinguagem, sim, aquela história de falar do suporte artístico dentro do próprio suporte, foi um recurso que durante todo o século 20 permeou quase todas as formas de artes. Da literatura até as artes plásticas, passando, é claro, pelo cinema, a metalinguagem é capaz de criar sensações espetaculares.

Porém, como qualquer maneira produtiva, a metalinguagem pode ser encarada de diversos pontos de vista, por exemplo, mais erudito e sutil, como Charlie Kaufmann fez em seu roteiro de Quero Ser John Malkovich, ou de maneira tosca, digna de uma sala de aula de terceira série, como Carlos Gerbase faz em seu Sal de Prata.

Chega a ser constrangedor em vários momentos a tacanhice da película. Quer ser intelectual, profundo, reflexivo, mas consegue mesmo é ser uma amostra do quanto o cinema brasileiro, ou melhor, o cineasta gaúcho quer ser pretensioso...

Rudi Veronese (Marcos "Me Ressucitaram" Breda) é um cineasta beira-de-esquina nacional típico, ou seja, fracassado. Quando pinga um dinheiro, realiza seus curtas-metragens. Ele também é namorado de Cátia (Maria Fernanda Cândido), uma economista bem sucedida. Este antagonismo permeia tudo o que vem a seguir. Durante uma reunião de seu círculo próximo de cineastas, Veronese sofre um enfarte e morre. Cátia, então, faz um mergulho na obra do namorado para entendê-lo melhor e entender melhor o que é cinema.

Entre reflexões sobre vida, morte, amor, Gerbase desfia seu rosário sobre a função da Sétima Arte através da personagem de Maria Fernanda Cândido. Seus ciúmes da atriz Cassandra (Camila Pitanga), o encontro com a filha de Veronese (que também trabalha com audiovisual, ou seja, isto está no sangue!), os amigos e, principalmente, os fragmentos de roteiros que encontrou.

Há espaço para a filosofia metalingüística de botequim de sobra para Gerbase. De uma patética discussão que questiona se o uso da câmera digital ainda seria cinema à polêmica da autoria do resultado final de um filme, tudo parece ser uma grande cartilha introdutória ao cinema e à metalinguagem, daquelas coleções bem vagabundas que custam menos de dez reais em qualquer banca da esquina.

Sal de Prata é um equívoco. Ainda que tente ser esforçado, parece mais um trabalho de calouros de faculdade de cinema. Iluminação mal-feita, direção de atores frouxa e largada, atuações abaixo da média dos atores e um roteiro pra lá de óbvio. O Brasil que vive as mínguas quando se trata de cultura, vive o dilema das produções Globo Filmes - geralmente muito rentáveis - e os alternativos, que se não são tão apurados esteticamente, geralmente entregam boas idéias. E Carlos Gerbase consegue unir a tosquice do alternativo com as bobagens dos grandões.

Ele, antes um dos mais promissores da leva gaúcha, mostra que não tem nada a acrescentar - exceto o fato de criar um volume maior de cinegrafia nacional. Depois do fraco Tolerância, conseguiu ir mais fundo no lodo com Sal de Prata. Não há metalinguagem que consiga evitar a simples falta de talento.