30 agosto 2005

Casa Vazia



Nota: 7,5

O diretor sul-coreano Kim Ki-Duk ganhou grande reconhecimento no ocidente no ano passado, quando seu Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera fez ótima carreira nos cinemas, inclusive nos brasileiros.

Mas se o filme anterior do diretor era baseado essencialmente em belíssimas paisagens e metáforas budistas - o que deve ter atraído a grande maioria do público - e fazia certas concessões narrativas para torná-lo mais acessível às pessoas deste lado de Greenwich, Casa Vazia (Bin-jip, 2004), seu novo longa, é muito mais honesto e descompromissado. Mas tão simples e bonito quanto o anterior.

O inteligente filme trata de temas também explorados em Primavera..., como aparências, inadaptação e responsabilidade, mas de uma maneira totalmente diferente. Nele, um jovem chamado Tae-Suk (Jae Hee) vive uma existência solitária à margem da sociedade. Habilidoso, invade casas temporariamente vazias para passar a noite, pegando emprestada a vida das famílias que ali vivem. Come, dorme, vê televisão. Como pagamento, faz pequenos serviços domésticos ou arruma aparelhos quebrados.

Numa dessas visitas, encontra uma linda mulher chamada Sun-hwa (Lee Seung-Yeon), vítima de abusos domésticos. Ela também não tem uma vida socialmente convencional, já que é quase prisioneira de sua própria casa. O encontro desperta fortes sentimentos nos dois e Tae-Suk decide resgatá-la, o que o coloca ambos em grande risco, já que o marido traído fica louco por vingança.

Talentoso, Kim Ki-Duk opta por um recurso inusitado para ilustrar a tristeza e o distante comportamente de seus protagonistas. Eles jamais conversam e toda a sua comunicação é corporal. No entanto, as situações são tão bem resolvidas que qualquer diálogo soaria redundante no relacionamento dos dois. Enquanto isso, as pessoas "normais" falam, ameaçam, questionam, e suas vozes ferem os ouvidos acostumados ao silêncio do casal.

Mas o mundo não vê com bons olhos as pessoas que não se adequam às suas regras e convenções. Assim, não tarda para que os dois sejam separados. É nesse momento que o exausto Tae-Suk opta por tornar-se verdadeiramente invisível e o filme ganha ares de fábula de realismo fantástico. É aí também que se escancaram as intenções do diretor, que critica o mundo e, por que não, o próprio cinema. Fora do alcance das lentes, o jovem protagonista some. É quase um aviso: O cinema não precisa necessariamente registrar uma idéia para que ela seja sentida. Imagens. Silêncio.

O que é real? A vida ou os sonhos? Eis a mensagem do final.