13 setembro 2005

Lila Diz



Nota: 4,5

"Olhe bem para a minha boca, como é minúscula"
Assim como a frase acima, tudo o que Lila diz tem o objetivo de chamar a atenção do interlocutor para o seu corpo e sua beleza. Na seqüência inicial, imagens apenas do corpo de uma menina num balanço ao som de sua voz adolescente, um tanto rouca, não deixam dúvida: estamos diante da Lolita da vez.

O filme Lila Diz, adaptação de um romance erótico de 1996 de Chimo, se esforça para explorar as fantasias sexuais de uma adolescente, sem vergonha ou restrições de qualquer espécie. Infelizmente, porém, o fato de o protagonista e narrador do filme ser homem, somado a algumas expressões pesadas e banais de sexualidade adolescente, resulta num filme que mais explora do que se solidariza com as adolescentes.

Comparado aos trabalhos das cineastas Catherine Briellat, Larry Clark ou Clare Denis, o retrato que o diretor Ziad Doueiri faz da sexualidade feminina em Lila Diz é superficial e sem vida. Doueiri chamou a atenção alguns anos atrás com Beirute Oeste, e a recordação desse filme deve atrair o público do cinema de arte para ver seu novo trabalho. A premissa central de Lila Diz -- uma adolescente falando sobre sexo, sem papas na língua -- também deve aumentar o interesse.

A adaptação de Doueiri gira em torno de Chimo (Mohammed Khouas), um jovem que vive no bairro muçulmano de Marselha. Rapaz sensível e com talento para ser escritor, ele se apaixona pela adolescente boca-suja Lila (Vahina Giocante). Ela o masturba sobre uma bicicleta e o convida para vê-la fazendo sexo grupal. Chimo, 19 anos, age como um menino de 14. É extremamente inocente e sua reticência, tanto em se impor diante dos amigos delinqüentes quanto em assumir o amor por Lila, chega a irritar. As atuações do filme, de uma maneira geral, deixam a desejar.

Quando a notícia da suposta ninfomania de Lila se espalha, a garota é estuprada pelos amigos de Chimo. É então que se descobre que as proezas sexuais da garota não passavam de fantasias adolescentes.

O filme quer se solidarizar com Lila, mas sua estrutura faz com que a tentativa já comece no pé errado. A perspectiva masculina desde a qual a história é narrada sugere que tudo não passa de uma fantasia masculina de estupro.

Giocante tenta acrescentar um pouco de mistério a seu papel, mas suas cenas sempre parecem ser esquemáticas demais. Na realidade, "Lila Diz" é mais interessante quando, em lugar do sexo, trata da política dos jovens muçulmanos franceses.