Madagascar
Nota: 6,5
Quem já foi pelo menos uma vez a um zoológico pode ter ficado meio decepcionado pela morosidade de alguns animais, principalmente os grandes felinos, como leões, tigres e leopardos, que ou estavam dormindo em suas jaulas, ou simplesmente parados. A vida do zôo é bem diferente do que se vê no Discovery Channel. Fazendo a comparação com um jogo de futebol, podemos dizer que o canal de TV mostra apenas os "melhores momentos", ou você acha que os grandes predadores ficam o tempo todo caçando zebras e gnus? Claro que não! Eles também têm de descansar, fazer a "siesta" depois de um banquete. Quando estão em cativeiro, com a comida chegando fresquinha à sua boca, tudo o que eles fazem é descansar. Quer vida melhor do que essa?
O leão Alex (dublado na versão original por Ben Stiller e na versão brasileira por Alexandre Moreno), principal atração do zôo do Central Park de Nova York, está muito feliz com esta vida fácil. Além de ganhar suculentos bifões, ele tem a sua cama/caverna aquecida, seus fãs e seus amigos, a zebra Marty (Chris Rock/Felipe Grinnan), a girafa Melman (David Schwimmer/Ricardo Juarez) e a hipopótama Glória (Jada Pinkett Smith/Heloísa Perissé). Porém, na festa do décimo aniversário de Marty, a zebra recebe uma visita por engano de um grupo de pingüins que está tramando fugir dali. Marty entra na "crise da meia-idade", afinal ele não viverá muito mais que duas décadas e tudo o que ele conhece da natureza é um painel que fica na frente da sua jaula. Decidido a escapar também, ele conta para os amigos esperando que eles se juntem ao time. Porém, os já urbanizados animais o desencorajam e imaginam que conseguiram acalmar o monocromático animal. Para não estragar as surpresas, vale dizer apenas que depois de algumas confusões e aventuras, os quatro amigos chegam à ilha africana de Madagascar, habitada por lêmures e outros animais selvagens e têm de se adaptar à vida longe das luzes da cidade.
E é a partir deste ponto que a nova animação feita pelos produtores de Shrek (2001) e Espanta Tubarões (2004) enfraquece. A saída de Nova York, a busca pela liberdade, que imaginei seria o grande lance do filme, acontece muito cedo e o que vemos em seguida são animais fora de seu habitat. É uma pena, pois as cenas da bicharada andando solta por Manhattan são hilárias. No melhor estilo Toy Story, os animais conversam entre si, mas quando estão na presença de humanos, tudo o que se ouve são rugidos. Eles passam por cenários clássicos como a Times Square, o ringue de patinação do Rockfeller Center, a 5ª avenida e a Estação Central como se fossem turistas que estão vendo tudo pela primeira vez, mas que na teoria já conheciam todos os lugares.
O dilema do "peixe fora d'água" que se segue quando eles chegam a Madagascar não tem muitas novidades. As risadas estão garantidas com piadas tanto para pequenos quanto para adultos. Na verdade, há até um certo exagero na "maturidade" do filme quando há uma referência à droga ecstasy no momento em que os animais do Zôo de Nova York se encontram com os lêmures, que curtem uma rave quase tão intensa quanto a mostrada em Matrix Reloaded (2003). Mas a piada é tão rápida que talvez muita gente nem perceba.
Talvez o que mais agrade mesmo aos fãs de animações é o estilo dos desenhos, que se inspiram nos clássicos de Chuck Jones e Tex Avery. Diferente dos traços mais realistas que vinham se tornando obrigatórios nas animações feitas por computação gráfica, os exageros caricatos e surrealistas utilizados por Jones e Avery mostraram que ainda funcionam muito bem na telonas. O exemplo perfeito de personagens que já são engraçados só pelo seu visual e casam muito bem com seus atos são os pingüins fujões e os macacos, que roubam a cena quando aparecem. Diria que se Madagascar fosse um produto da Disney, eles com certeza ganhariam um longa próprio que seria lançado direto no mercado de home video.
Algumas pessoas que não assistem aos canais de TV aberta podem estranhar uma mulher que aparece ao final dos comerciais indicando o filme. Seu nome é Heloísa Périssé. Ela é uma humorista global e foi a responsável tanto pela dublagem da Glória quanto pela adaptação do roteiro para o português. As piadas perdidas, como a referência aos New York Giants (time de futebol americano da Big Apple), não são culpa dela e no geral a adaptação para o português foi bem feita. No quesito dublagem, como sua personagem é secundária, não houve perda alguma. Torçamos para que a mania de contratar "rostos famosos" para fazer dublagem tenha terminado com a participação do Supla Papito em O filho do Máskara.
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