Guerra dos Mundos
Nota: 5
Na sessão para a imprensa de Guerra dos Mundos, os jornalistas eram obrigados a assinar um termo se comprometendo a não publicar nada sobre o filme antes da estréia na quarta (29/06). Qual seria o medo dos estúdios Paramount? Que o novo filme de Spielberg recebesse péssimas críticas antes mesmo do lançamento mundial?
Não deve ser apenas coincidência. Medo e paranóia são os temas centrais de Guerra dos Mundos. Depois de tantos filmes inspirados no 11 de Setembro, coube ao maior diretor de Hollywood construir a metáfora mais óbvia e simplista dos atentados. E compactuando de vez com a doutrina Bush.
Um narrador abre o filme com o enunciado: "Um dia eles vão nos atacar, e será nosso dever lutar pela liberdade até o fim". Um trabalhador das docas (Tom Cruise) leva a sua vida pacata com os filhos e a mulher divorciada quando de repente toda a cidade é atacada por alienígenas de desenho pouco inspirado, copiados dos de Independence Day, e suas naves aracnídeas de visual anos 80.
Resta a Cruise partir para o braço em meio ao pânico geral. Como muitas vezes em Spielberg, é uma criança (a menina Dakota Fanning, de O Amigo Oculto) que conduz a narrativa. E é o filho mais velho que vira motivo de orgulho ao demonstrar heroísmo nacionalista e bélico, ao desgarrar-se da família para combater os ETs. À paranóia bélica, junta-se a paranóia sexual, outra das obsessões preferidas dos americanos, em uma rápida insinuação de pedofilia.
Reza a lenda que Spielberg levou 11 meses desde a concepção da história até o final da pós-produção. É um tempo muito curto para um blockbuster desse porte. O descuido mais visível é no roteiro, adaptado da aventura clássica de H.G. Wells publicada em 1898: cheio de problemas de continuidade e com um final ao mesmo tempo patético e confuso. Salva-se a fotografia sóbria e inteligente de Janusz Kaminski, insinuando que o mundo já é bastante cinzento e sombrio mesmo antes da chegada dos ETs.
Guerra dos Mundos é um fracasso na obra de Spielberg visto de qualquer ângulo. A última ficção científica do cineasta, Minority Report - A Nova Lei, talvez seu trabalho mais maduro até hoje, tinha a preocupação ética de discutir a justiça num mundo totalitário. E a última vez em que tratou dos alienígenas - em ET, e mais ainda em Contatos Imediatos do Terceiro Grau -, ele acreditava que um contato com o outro era possível. Hoje, qualquer criatura estranha (sejam ETs, afegãos ou iraquianos) é uma destruidora em potencial, merece o nosso desprezo e tem que receber o troco em nome da "liberdade".
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