05 julho 2005

Inconscientes



Nota: 8

Inconscientes parte da idéia de que, se os conceitos freudianos se disseminaram tanto pelo Ocidente, ao ponto de estarem hoje banalizados, e que é hora de devolvê-los às suas origens como um arremedo deles mesmos. Voltemos ao impacto de Freud, e as neuroses por ele causadas. Ele é efeito e causa de uma crise que começou naquele ano e se alastrou até os dias atuais. A psicanálise quer saber de tudo. Um filme em que Freud é - além de personagem de carne e osso - um grande clichê, Oristrell tenta retratar a psique de uma sociedade que originou nossas atuais neuroses.

Alma (Leonor Watling) é a mulher do psicanalista Leon (Alex Brendemühl), que enlouqueceu, de modo quixotesco, após passar uma temporada com Freud e se entupir de suas teorias, resolvendo, então, sumir do mapa. Ela parte atrás dele com uma única pista, uma tese que o médico deixou sobre quatro mulheres histéricas, e um único aliado, o cunhado Salvador (Luis Tosar). Alma é uma mulher moderna e também leitora dos escritos do austríaco, enquanto Salvador é um tipo conservador que acredita que emoções são fenômenos endócrinos. Com idéias opostas sobre sexo e amor, os dois mergulham nos casos das mulheres estudadas por Leon, tentando encontrar pistas de seu paradeiro.

A primeira é uma atriz de filmes sadomasoquistas, a segunda, uma paranóica que acha que o marido mandou interná-la num hospício. Mas as coisas começam a se enroscar mesmo quando descobrem que a terceira é a irmã de Alma e mulher de Salvador, que, motivada pela "inveja do pênis" do marido - que é mesmo gigantesco - começa a freqüentar festas secretas de transformistas. Em uma clara alusão a De Olhos Bem Fechados.
Já o quarto caso, que se refere ao mito do "totem e tabu", acaba por embrulhar de vez todos os envolvidos e por provocar uma mirabolante tentativa de assassinato do próprio Freud, que está, então, de passagem por Barcelona. Complexo de édipo, incesto, inveja do pênis, tem um pouquinho de idéias freudianas em cada cena.

A estrutura de folhetim é "didática" ao ilustrar os conceitos freudianos na forma de divertidos esquetes. Mas o principal êxito está em fazer rir de uma modernidade não muito distante da nossa, fazendo cair máscaras atemporais, com ou sem a ajuda de Freud.