Caiu do Céu
Nota: 5,5
Com uma carreira calcada no suspense, terror e humor negro, o inglês Danny Boyle surpreende ao apresentar em Caiu do Céu (Millions, 2004) um sensível filme-família. Mas não espere algo nos padrões da Walt Disney, empresa especialista nesse tipo de produção. Apesar de tratar-se de uma fábula, o longa não nega o passado do cineasta de Trainspotting, Extermínio, Cova Rasa e A Praia.
Boyle continua tão inquieto como sempre. Sua câmera não pára, sempre buscando ângulos inusitados ou coloridas seqüências impactantes. Seus personagens também beiram o burlesco, com santos que fumam baseados e adultos que parecem totalmente desconectados da realidade o tempo todo. De fato, o único que parece normal é justamente o mais estranho. O pequeno Damian (Alexander Etel), aos nove anos de idade, vê mártires cristãos e conhece todos por nome, data de nascimento e de morte, da mesma forma que seus coleguinhas de escola entendem dos astros do esporte.
A história começa quando Damian, seu irmão de 11 anos Anthony (Lewis McGibbon) e o pai (o excelente James Nesbitt de Domingo sangrento) se mudam para um condomínio de casas em Liverpool. A família tenta se distanciar das lembranças já que a mãe morreu recentemente. Curiosamente, as crianças não parecem muito afetadas pela perda. Encaram com naturalidade sua situação e até usufruem dela com enorme cara-de-pau quando conveniente.
A vida dos meninos muda radicalmente mesmo quando Damian é atingido por uma enorme sacola cheia de dinheiro enquanto brincava, ao lado de uma ferrovia, dentro de uma caixa de papelão. Ao contar para o irmão sobre a descoberta - que ele acredita ser um presente divino - a dupla começa a imaginar o que fazer com a vultuosa soma. Mas eles têm que se apressar. O pound inglês deixará de existir em poucos dias, dando lugar ao Euro da comunidade européia. Ver os dois meninos - ambos excepcionalmente bem interpretados - discutindo sobre o que fazer com o dinheiro, enquanto o malandro Anthony cria esquemas mirabolantes para trocá-lo, é metade da diversão do filme.
Sem grandes pretensões, Caiu do Céu é um filme agradável e consegue prender nossa atenção naqueles minutos. Não espere muita coisa, não espere um novo filme de Boyle, mas vá ao cinema procurando diversão. Trata de dois temas principais: como o dinheiro corrompe e a imaginação pode salvá-lo. A premissa é batidíssima, mas nas mãos de Boyle e do roteirista Frank Cottrell Boyce (A Festa Nunca Termina, Código 46) funciona bem.
Uma fábula inteligente, com visual estiloso e relevante mensagem positiva. No atual mercado infanto-juvenil (e enfie nesse saco toda a cinematografia nacional de Xuxas, Elianas, etc), este filme sim é algo que caiu do céu.
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