09 maio 2007

Ódique?



Nota: 6

"Ah, a juventude de hoje em dia. Pra onde esse mundo vai? Porque, no meu tempo, os jovens não viviam fumando maconha e falando palavrão desse jeito."

É esse tipo de indignação de ponto de táxi que impregna Ódiquê?, primeiro longa-metragem de Felipe Joffily. Não é, porém, um catastrofismo de cima para baixo, nostálgico. O "no meu tempo" é o agora. Como o paulistano Cama de Gato, o filme carioca é um retrato pessimista pintado por quem compartilha os vinte anos. A diferença é o sotaque.

O diretor Joffily estava chegando aos 30 quando rodou o filme há oito anos. Na história, três amigos (Cauã Reymond, Dudu Azevedo e Alexandre Moretzsohn) se reúnem para planejar a viagem que eles farão no Carnaval para Arraial d'Ajuda, na Bahia. O problema é que um deles foi escalado para trabalhar no feriado e decidiu pedir demissão. Como conseguir dinheiro? Com uma arma emprestada, um carro importado do amigo playboy e muito "tóxico" na cabeça.

A comédia dramática Ódique?, é uma espécie de resposta carioca ao paulista Cama de Gato, com alguns toques de Cidade de Deus. No elenco, estão Cauã Reymond, Leo Carvalho e Cássia Kiss.

O filme tem a pretensão de ser um retrato crítico da juventude de classe média carioca, que não mede esforços para alcançar seus objetivos - seja lá quais forem.

No caso, é algo banal, como passar o Carnaval no Nordeste. Para conseguir dinheiro, eles se envolvem em crimes que viram uma bola de neve.

O trio central é interpretado por Reymond, Alexandre Moretzsohn e Eduardo Azevedo, que seriam os representantes típicos de uma parcela da juventude da classe média carioca, que só quer se dar bem. Um deles não pensa duas vezes antes de abandonar o emprego, para não ter que trabalhar durante o feriado e frustrar seus planos de viagem.

Os outros dois não parecem ter muitas perspectivas na vida, por isso a viagem só é mais uma curtição. Para conseguir o dinheiro, eles chamam o amigo Paulinho Tantan, playboy filho de político, que adora se envolver numa briga e sempre se safa por conta do seu dinheiro.

O plano inclui um seqüestro, que acaba não dando muito certo, e leva o quarteto a entrar em outras confusões, como um assassinato e a simulação de um outro seqüestro.

Ódiquê? pretende incomodar e acaba conseguindo, ao tentar dar legitimidade aos atos moralmente repreensíveis de seus personagens.

Tito, personagem de Reymond, agride duas vezes um flanelinha negro e deficiente mental. A cena parece querer criar na platéia uma repulsa contra o personagem, mas o desenrolar da trama mostra que "eles não são tão maus assim", como tenta confirmar o final da história.

Em tempo: "ódiquê" é corruptela no carioquês, para "ódio de quê?".