24 abril 2007

A Colheita do Mal



Nota: 0

Não há talento que salve um roteiro ruim. Hilary Swank, duas vezes vencedora do Oscar (por Meninos Não Choram e Menina de Ouro) é a mais recente prova disso. Talentosíssima, caiu na lábia de Joel Silver, o controverso superprodutor de Matrix, V de Vingança e clássicos oitentistas como Duro de Matar e Máquina Mortífera, que tem feito verdadeiro desserviço ao gênero do terror e suspense com sua produtora Dark Castle Entertainment, casa de desgraças como Na Companhia do Medo, 13 Fantasmas e A Casa da Colina.

Ao encontrar-se com Silver, Swank aceitou realizar seu primeiro filme notoriamente comercial pós-sucesso na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Colheita do Mal (The Reaping). Fã de suspenses sobrenaturais, ela acreditou que o roteiro de Chad Hayes (Casa de Cera) resultaria num filme decente ao encantar-se com as reviravoltas propostas no roteiro. Mas eis outro problema sério do gênero: reviravoltas no final (coisa meio comum no cinema, hoje em dia) também não salvam roteiros ruins. Hoje em dia tudo é repetido à exaustão, e não basta apenas uma idéia interessante e outros 90 minutos de clicheria e explicações desconexas, pouco convincentes...

A trama coloca Swank no papel de Katherine, uma professora da Louisiana State University e ex-pastora especializada em desmentir milagres mundialmente (ela faz isso por uma tragédia pessoal, mas não fica claro para quem trabalha). Ela tem 100% de sucesso nessas missões até que é chamada à pequena cidade de Haven, na Lousiana (o filme foi gravado antes e depois da passagem do Katrina por lá), que está enfrentando a primeira das 10 clássicas pragas bíblicas do Egito: o rio virou sangue. O que parecia mais um caso fácil começa a se complicar conforme as demais pragas do Testamento seguem na seqüência.

Os locais acreditam que tudo isso seja obra de uma menininha de 12 anos (a arrepiante AnnaSophia Robb, de A Fantástica Fábrica de Chocolate), supostamente uma cria do capeta, e cabe a Katherine impedir uma tragédia e desvendar o mistério antes que o pior aconteça - seja isso a morte de uma inocente ou o fim dos tempos.

O roteiro é falho, previsível e a direção é fraquíssima. Stephen Hopkins, diretor que andava desaparecido das telonas (seu filme mais lembrado é Predador 2), não aposta nos sustos fáceis (mas também não é de ferro e deixa lá um ou dois deles) tão superutilizados hoje em dia. E parece bem à vontade com os efeitos especiais, que em determinado momentos tomam conta da história com explosões e correria, algo que ele deve ter aprendido na passagem pela telessérie 24 horas.

Um cineasta menos versátil, portanto, poderia ter significado um lançamento de Colheita do Mal direto em DVD pela fragilidade do texto. Mas ele também tem enorme sucesso ao filmar a figura de Swank como nunca foi registrada antes. A atriz aparece aqui como uma verdadeira diva hollywoodiana: roupas simples e esvoaçantes, decotes generosos, jeans apertado, cabelo sedoso... Hopkins a toma como objeto de fetiche e não tenta disfarçar isso. A cena da faca no passador da calça escancara esse prazer quando, depois de Katherine guardar a arma junto ao traseiro, ela sobe uma escada e a câmera a acompanha, glúteos feito engrenagens, subindo e descendo, degrau a degrau. Lindo.

O difícil é voltar ao clima de suspense depois de uma cena dessas.

A atriz fez a opção errada. A direção é absurdamente comum e convencional, irritantemente convencional. Parece que os produtores e diretores de Hollywoody não se importam mais em deixar bem claro, que o público alvo de seus filmes, são completos idiotas.