18 abril 2007

300



Nota: 3

"Filme de batalha que dá sono é ruim pra caralho..." O veredicto de um adolescente ao fim de uma das sessões de 300, revela que a decepção com adaptação da HQ de Frank Miller não se resume a mau humor de críticos de cinema.

O trailer criou uma expectativa em torno do filme, que as duas horas de projeção não satisfazem. Com exceção das seqüências de batalha, com ênfase no aspecto gráfico, coreografia estilizada e um uso admirável dos contrastes entre os vermelhos das vestes espartanas e o cinza dos uniformes persas, 300 se arrasta, perdido em lições ideológicas de intenções duvidosas.

O triunfo da força e da disciplina contra a tirania e o misticismo parecem extraídos de um manual fascista. Pior, ecoa muito da doutrina Bush ao reproduzir um suposto "choque de civilizações" entre Ocidente e Oriente.

Mas é na ineficiência em satisfazer os instintos de ação da platéia que 300 fracassa. Entre uma cabeça decepada e jorros de sangue, dá-lhe discursos sobre a liberdade, o valor da morte e outras filosofices, proclamados em tom shakespereano por atores obscuros cujo único talento reside nos músculos.

300 reproduz os truques de Gladiador (reconstituição de uma civilização antiga, ação brutal, música melosa tonitruante, cenas de emoção em campos de trigo). Mas os excessos "kitsch" do filme de Ridley Scott na versão "camp" de Zack Snyder (constituída por uma tipologia gay cujo ápice é a aparição constrangedora de Rodrigo Santoro) convertem a emoção em risadas involuntárias.

Crianças brutalizadas e militarizadas desde o berço (algo parecido com um Nascido Para Matar, sem a crítica; discurso pró-belico, onde a guerra é pregada como um avanço e a negociação como uma fraqueza; limpeza étnica, onde os defeituosos são mortos, para que a nação não se torne fraca. Nazismo? Fascismo? Não quero tomar partido, deixo que Leônidas fale por mim: "Sem piedade, sem prisioneiros." Essas são as frases desferidas pelo "grande" líder, quando o exército espartano aprisionam mais de mil soldados inimigos.

Nota 3 pela bela fotografia, pelos belos efeitos especiais, pelo clima pesado e denso gerado pelo filme. É só.