Maria Antonieta
Nota: 5
Depois de vários adiamentos e até ameaças de um lançamento direto em DVD, a Sony leva aos cinemas brasileiros o terceiro longa da cineasta Sofia Coppola, Maria Antonieta, que apesar de manter o mesmo estilo cru de filmagens, está mil anos luz de seus antecessores.
A estréia do filme foi no Festival de Cannes, em maio de 2006, quando concorreu pela Palma de Ouro. Depois da primeira exibição, o longa chegou a ser vaiado, dividindo as opiniões da crítica por onde tem passado.
Maria Antonieta está longe de ser uma cinebiografia tradicional, e aqui está problema em se tratando de um personagem de tal envergadura. E o pior é que esse nem é o objetivo da diretora, que aqui está mais preocupada com as pessoas e seus sentimentos do que com o processo histórico no qual estão envolvidos. É uma opção difícil (e alienada?), o que, logo de cara, desagrada a muitos. Principalmente por ser tratar de uma rainha que só queria consumir, e pelo fato de a monarquia ter caído exatamente nesse episódio retratado.
O universo que a diretora Sofia Coppola procura retratar é o mundo da nobreza francesa do século 18, que se sustentava na superficialidade. E ela foi superficial ao extremo. Os figurinos de Milena Canonero (premiada com o Oscar) e a direção de arte dão a tudo a aparência de doces de uma finíssima confeitaria.
O roteiro, assinado pela diretora, é baseado na biografia revisionista da rainha escrita por Antonia Fraser, mas não segue uma linha narrativa. Sofia está mais preocupada em criar momentos, climas. Assim, o filme vai sendo construído em cima de elipses. As baladas, as curtições, os momentos engraçados. Como vários adolescentes ricos, que não tem onde gastar dinheiro e resolvem curtir o tempo todo, a diretora escolheu esse caminho apolítico, em detrimento do que realmente acontecia na época. De vilã, Copolla a transformou em uma menininha rica norte-americana.
O segundo trabalho de Sofia, Encontros e Desencontros, era a história de uma jovem inteligente presa a um casamento infeliz que a anulava. Maria Antonieta é sobre o mesmo assunto, mostrando uma moça cheia de vida e planos (interpretada por Kirsten Dunst) que estranha o fato de estar presa a uma sociedade cheia de normas. Claro que isso é logo contornado, e ela desfruta (e muito) da vida da realeza francesa.
Esse é um filme sobre o mundo de Maria Antonieta. Nele, política e povo praticamente não têm espaço. Só vamos ver a reação popular bem no final do filme, quando o rei Luís 16 (Jason Schwartzman) estava a um passo da degola.
Essa cena é o momento em que a tal bolha cor-de-rosa (no caso, Versalhes) onde a rainha vive estoura e ela percebe que o mundo não é coberto de glacê real, como ela até então pensava.
Ao optar por trazer Maria Antonieta como uma jovem bem próxima das adolescentes de hoje, Sofia faz um diálogo entre passado e presente. Quer com isso dizer que os tempos mudam, mas os anseios, medos e prazeres, nem tanto. A juventude sempre alienada (e a diretora idem) frente aos problemas do mundo.
A trilha sonora, por sua vez, é composta por clássicos e música pop dos anos 1980, o que causa um estranhamento a alguns. Para outros, permite uma aproximação com a personagem em seu mundo. Entre as bandas escaladas estão New Order, Siouxsie and the Banshees, e Bow Wow Wow - ao lado de mestres como Vivaldi e Scarlatti.
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