28 fevereiro 2007

O Mestre das Armas



Nota: 5

Depois de uma longa temporada nos EUA, Jet Li retorna para o cinema chinês no filme de artes marciais O Mestre das Armas (Huo Yuan Jia, 2006). Um regresso não só ao seu país como aos temas que lhe marcaram o início da carreira: da defesa da China contra o estrangeiro invasor e do guerreiro errante que só se completa quando medita sobre sua arte, unindo corpo e mente.

Dirigido por Ronny Yu - nascido em Hong Kong, outro que volta para o Oriente depois de cometer A Noiva de Chucky, Fórmula 51 e Freddy Vs. Jason em Hollywood - o roteiro ficcionaliza a história de Huo Yuanjia (1869-1910), célebre lutador chinês que, antes de fundar e servir de guru espiritual da Chin Woo Athletic Association, montou uma escola de artes marciais em Xangai que servia de palco para desafios entre lutadores de estilos, localidades ou mesmo de países diferentes.

A idéia de construir tanto a escola quanto a associação nasceu do fato de diversos lutadores do mundo professarem sua superioridade em território chinês, numa época em que as fronteiras do país cada vez mais se abriam aos interesses dos impérios europeus. Diante de boxeadores e espadachins que apelidavam os chineses de "doentes da Ásia", Yuanjia mostrava no ringue o valor das artes marciais dos seus compatriotas. Suas vitórias foram vistas como exemplo de patriotismo.

Yuanjia começa o filme sem esse status todo. Lutador prepotente, sua ambição é se tornar o maior vencedor de sua vila. À medida que adversários caem e pupilos aumentam, Yuanjia perde a dimensão de seus atos. A simplificação é extrema, agravada pela mão pesada de Yu: com seus erros, na primeira parte do filme, o lutador assiste à ruína dos próximos; com a redenção, na metade final, encontra o amor e a glória. Um providencial retiro interior no campo marca a transição, filmada burocraticamente (ainda que a cena da plantação tenha a sua poesia).

Existe uma fórmula pronta aí, e o diretor se entrega a ela sem correr riscos. Defender a pureza da cultura milenar é mais oportuno hoje do que foi nos anos 80 e 90, nestes tempos de modernização desenfreada da China. Já construir toda a mise-en-scène atentando só para a coreografia das lutas é um defeito que aflige há anos o gênero. Resta a Jet Li, dentro dessa receita de gesso, ciente de que não há sutileza possível com Ronny Yu, brincar de interpretar Yuanjia de forma caricata.

A produção se justifica, portanto, como convencional e edificante. É obra para grandes massas. A coreografia das lutas é impecável, mas a dimensão moral e psicológica do entrecho tem a transparência de "obra fácil". Pensado para o mercado internacional, o longa funciona nos limites do senso comum. Mesmo trabalhando com valores que transcendem o patamar ocidental, o ambicioso projeto de Li e Yu não tem transcendência estética.