25 abril 2006

O Albergue



Nota: 6,5

Um dos mais cultuados subgêneros do terror é o chamado Gore - produções nas quais o elemento predominante é o sangue, geralmente acompanhado de vísceras, amputações e seus derivados, como o pus e outros fluidos nojentos. Aliás, a idéia aqui é essa mesma: causar asco no público, algo que já virou até sinônimo da palavra inglesa: "filme de nojeira".

Grandes cineastas dos blockbusters da atualidade começaram fazendo gore (e com um pé no trash). Peter "Senhor dos Anéis" Jackson e Sam "Homem-Aranha" Raimi, por exemplo, trouxeram pérolas como Náusea Total (Bad Taste, 1987), Fome Animal (Dead-Alive, 1992) e a trilogia Evil Dead. Todos repletos dos elementos citados acima e dotados de enorme humor negro.

Pois um novo nome chega para engrossar esse angu de pústulas. Eli Roth chamou a atenção da indústria em 2003 com Cabana do Inferno (Cabin Fever, lançado direto em DVD por aqui), seu primeiro longa, que custou apenas 1,5 milhão de dólares e deu gordos ganhos ao estúdio Lions Gate. Assim, não tardou para que seu novo projeto, O Albergue (Hostel, 2006) fosse anunciado, com produção executiva de Quentin Tarantino e o escambau. Seu filme sanguinolento não custou nem 5 milhões de dólares - um orçamento bem baixo para Hollywood - e rendeu mais de 50 milhões de dólares até o momento.

Roth e um amigo tiveram a idéia de fazer um filme sobre a chamada indústria da morte, em que as pessoas pagam para matar outras, depois de ler na Internet que isso é legal na Tailândia. "Isso me deixou de estômago embrulhado. Mas era interessante pensar até onde o ser humano é capaz de chegar em busca de prazer", afirma.

O diretor ficou um bom tempo trabalhando na idéia do roteiro de O Albergue e só teve certeza de que deveria fazer o filme quando seu amigo Quentin Tarantino se empolgou com a história, ajudando a construir o roteiro (influência é tudo no cinema).

O filme resultante é legítimo gore, diferente de produções recentes como os dois Jogos mortais, que sugerem muita coisa mas se perdem em armadilhas pretensiosas. O negócio em O albergue é mesmo o úmido e escorregadio choque e sua única intenção é divertir espectadores sádicos, dos quais o Marques de Sade teria orgulho. Fazer rir de pus jorrando aos borbotões é uma arte e Roth, como um Picasso das tripas, vive nesse momento sua "Fase Azul" (ou vermelha, no caso do cineasta).

O diretor também é bastante feliz na escolha da ambientação de sua história. A situa em Bratislava, capital da Eslováquia, cidade da qual o grande público pouco sabe, estimulando assim o imaginário. Os encantos urbanos mostrados na telona, porém, não pertencem ao local, mas à velha vizinha República Tcheca, destino preferido dos produtores pela moeda desvalorizada, belezas naturais e preservação de edificações de séculos de idade.

De qualquer forma, a idéia funciona perfeitamente. Inexplorada pelo cinema, Brastislava surge com uma aura de mistério que não funcionaria em qualquer outro destino batido da Europa, lotado de turistas. É para lá que vão os amigos mochileiros estadunidenses Paxton (Jay Hernandez) e Josh (Derek Richardson) e o islandês Oli (Eythor Gudjonsson), atraídos pela promessa de garotas maravilhosas (realmente, as centro-européias estão entre as mais lindas do planeta) e loucas por sexo. É o sonho molhado da "Sneepur Patrol" (patrulha do clitóris, no idioma da Islândia).

Ao chegarem à pequena capital ex-socialista, deparam-se com a feliz constatação de que toda a propaganda era justificada. O albergue em que se hospedam tem garotas desinibidas, um spa, baladas diversas e a "pegação" decorrente de tais desvarios. Quando o amalucado Oli vai embora sem qualquer explicação, no entanto, Paxton começa a desconfiar da sorte do trio e não demora para que ele descubra a mortal natureza real desse paraíso.

O desenvolvimento sem pressa das situações e personagens criam a empatia necessária com os protagonistas, sem adiantar as inevitáveis e criativas chacinas. De fato, o início parece até uma comédia adolescente. Daí a satisfação em ver essas chatas figuras recorrentes no cinema morrendo um a um, creio. Já o terceiro ato é o mais questionável, encaixando-se numa idéia hollywoodiana das vendettas dignas de Charles Bronson.

Se a idéia for assistir um filme trash, com muito sangue, vá ao cinema com a certeza da diversão, mas se você for como eu, que critica tudo, mas tudo mesmo que assiste nos cinemas, é melhor assistir outro filme. Além de mostrar os norte-americanos como pessoas ingênuas mas inteligentes, acima da média, acima dos demais, mostra o povo do leste europeu como estranho e mal-intencionado. E além de preconceituoso e xenófobo, o filme não é de terror, como é vendido pela mídia, pois não ficamos com medo em nenhum momento da película. O filme é nojento, isso sim, mostra muita tortura e os "heróis" também aderem à tortura. Acho que os norte-americanos não sabem o que foi a tortura em países latino americanos, por isso insistem em mostrar em seus filmes, que essas práticas são válidas dependendo de quem as utiliza. As vezes são Rambos e Bruce Willis da vida, ou jovens adolescentes, mas isso só banaliza a violência, e torna a tortura algo normal.