A Dama de Honra
Nota: 8
O parisiense Claude Chabrol terá eternamente seu nome gravado no mármore da sétima arte.
Como crítico da influente revista francesa Cahiers du Cinéma, abriu os olhos do mundo para a genialidade de cineastas até então considerados meramente bons realizadores de produções comerciais, como Howard Hawks e Alfred Hitchcock. Como cineasta, deu o pontapé inicial, às vésperas dos anos 1960, para o revolucionário movimento Nouvelle Vague ao lado dos também colaboradores da publicação François Truffaut, Jacques Rivette, Jean-Luc Godard e Eric Rohmer.
A partir daí, Chabrol trabalhou em mais de cinqüenta produções, incluindo os sucessos Um Assunto de Mulheres (Une Affaire de Femmes, 1988) e Mulheres Diabólicas (La Cérémonie, 1995). Neste último, adaptou o romance A judgment in stone, da inglesa Ruth Rendell. Em 2004, aos 73 anos, voltou a utilizar uma obra da escritora como base para um de seus filmes, A Dama de Honra (La Demoiselle d'Honneur, 2004). Nele, prova que a passagem das décadas parece incapaz de nublar seu talento ou a estética que o motiva.
A ironia, as relações entre o indivíduo e a culpa e a idéia de assassinato herdados do mestre Hitchcock continuam presentes no trabalho de Chabrol. É fantástico notar como um filme que parece comum - sobre a normalidade de uma família qualquer - é conduzido pela mão do velho mestre em direção a situações incômodas, improvavelmente plausíveis. Suas sutis pistas sobre o passado dos personagens são quebra-cabeças cuja montagem é um deleite, algo necessário para o perfeito entendimento da trama e as motivações dos protagonistas. Nada é dado, jogado. O espectador é convidado a pensar e, com isso, participa do jogo de suspense proposto.
A dama de honra do título é a bela Senta Bellange (Laura Smet - belíssima, melhor dizer), prima do cunhado do pacato Phillipe (Benoît Magimel). Ambos se conhecem durante o casamento da irmã dele e a atração é imediata. Mas enquanto os corpos conversam, brigam as mentes. As excentricidades de Senta tornam-se cada vez mais insólitas e Phillipe fica dividido entre a paixão e seu senso de responsabilidade. Ao mergulhar na vida da desconhecida, ele coloca a idéia da vida que criou para si em perigo. A incerteza das intenções dela aumentam conforme o suspense cresce, culminando num inusitado ato final que certamente provocará discussões na saída do cinema (sem falar nos protestos de alguns).
Magimel e Smet fazem um trabalho excepcional como o casal protagonista, mas o cineasta também extrai ótimas interpretações do elenco de apoio, especialmente de Aurore Clément (a mãe de Phillipe) e da jovem Anna Mihalcea (a irmã rebelde). Destaque também para a trilha sonora de Matthieu Chabrol, filho do cineasta, que parece saída diretamente de um filme de Hitchcock.
Vale lembrar ainda que um momento decisivo da película, quando Senta diz que uma pessoa não terá vivido sua vida plenamente até ter completado algumas tarefas. No cinema também é assim. Um cinéfilo não é completo até ter assistido a certos filmes. E os de Chabrol estão certamente entre eles.
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