13 dezembro 2005

Soldado de Deus



Nota: 8,5

Um documentário que faz um retrato do que foi o Integralismo e sua importância na vida política brasileira. O filme de Sergio Sanz traz importantes depoimentos de pessoas como Anita Prestes, Gerardo Melo Mourão, Antonio Carlos Vilaça, Leandro Konder, Muniz Sodré, entre outros grandes pensadores e pesquisadores.

Um olhar sobre nossos ombros. Umas vezes de soslaio, outras bem no olho da História. Um encontro com o Integralismo através do testemunho - palavras e gestos - de quem estabeleceu, viveu, ama, amou e deixou de amar seus princípios e práticas; de quem sempre o condenou, julgou, criticou; e de quem estuda os tempos em que o nacionalismo de direita mobilizou em torno de um milhão e filiou 500 mil pessoas em um país de cerca de 40 milhões e construiu o primeiro partido de massas do Brasil.

Gente como Miguel Reale (Doutor em Direito e ex-secretário de Justiça do estado de São Paulo), Nilza Perez de Rezende (advogada trabalhista e mulher mais importante na hierarquia do Integralismo), Gumercindo Rocha Dórea (editor dos livros de Plínio Salgado), Gerardo Melo Mourão (poeta), Arcy Lopes Estrella (criador do Centro Cultural Plínio Salgado), Padre Salgado Crispim (afilhado de Plínio salgado), Antonio Carlos Vilaça (escritor), Leandro Konder (filósofo), Luis Fernandes (cientista político), Muniz Sodré (Doutor em Comunicação e professor da UFRJ), Anita Prestes (historiadora e filha do líder comunista Luís Carlos Prestes), Alceste Pinheiro (jornalista e professor da UFF-RJ)

Orçado em R$ 245 mil, o documentário Soldado de Deus traz memórias emocionais e racionais que possibilitam a reflexão sobre a influência e a presença do Integralismo na história recente e no presente dos brasileiros.

O Integralismo reuniu alguns dos mais importantes intelectuais brasileiros da época, na condição de lideranças, militantes ou simpatizantes. Apesar disso, o cinema brasileiro e a própria mídia, o tem tratado marginalmente, de passagem, sem se debruçar verdadeiramente sobre seu significado, sua história e o entranhamento de seus valores na sociedade atual. O que sobra para nós hoje, via mídia, é a relação entre o Integralismo e o Facismo. Isso é tudo que temos conhecimento, e bem esparsos. Mas um movimento grande como esse, com suas razões, seus discursos, seus adeptos, merece um outro olhar, uma olhar mais crítico, mais aguçado, que nos possibilite ver as múltiplas facetas e possibilidades. O filme não é uma apologia ao Integralismo, nem um acusador ferroz da seita, e consegue se manter no fio tênue da imparcialidade.

O cinema, a televisão, a imprensa e os intelectuais não tocam no tema Integralismo e Plínio Salgado, já é o momento de trazermos a publico essa página da nossa história e os homens que a escreveram que acreditamos ser de grande importância para a compreensão de nossa realidade. Não tem como compreendermos o Brasil sem entender o que foi de fato o Integralismo na década de 30, Getúlio Vargas e a ditadura militar. Todos se completam, e todos são analisados no filme. Interessante e bem didático.

Alguns desses homens permaneceram fiéis aos seus princípios até o fim da vida e alguns outros mantêm, nos dias de hoje, vivas as idéias essenciais do movimento, independentemente de explicitarem ou não seus símbolos, e contribuem para fazê-las chegar aos jovens, como o jurista Miguel Reale, o escritor Gerardo Mello Mourão, o editor Gumercindo Rocha Dórea.

Mas houve aqueles que, como D. Hélder Câmara e Santiago Dantas, tomaram outros rumos, embora mantivessem princípios que os haviam aproximado da Associação Integralista Brasileira. É assim que, no pensamento de D. Hélder, nos anos 70, estão contidos objetivos e propostas de seus escritos dos anos 30 e que a política externa propugnada por Dantas, nos anos 60 repousa em convicções nacionalistas.

Mesmo tendo posto na ilegalidade a AIB e perseguido e levado à prisão ou ao exílio seus principais membros e devotados militantes, o Estado Novo incorporou muitos dos princípios e métodos centrais da Doutrina Integralista. Busca institucionalizar o corporativismo, investe contra o poder dos governadores e das oligarquias regionais, molda a educação cívica nos modelos da AIB, entre outros aspectos.

O filme tem como objetivo, além de apenas reconstituir cinematograficamente a história do Integralismo, localizar a essência do pensamento que aproximou artistas e intelectuais do movimento e identificar os valores da civilização brasileira intrínsecos à doutrina integralista e as propostas da AIB que se consolidaram em nossa sociedade.

O diretor disse que o que interessa ao filme é o permanente, o duradouro nas idéias do Integralismo, é identificar sua originalidade, sua essencialidade. Que sua atitude é a de oferecer, limpa, leqal e objetivamente, as idéias e argumentos de seus criadores, simpatizantes e continuadores. Não cabe a eles fazer um filme integralista nem muito menos um filme antiintegralista. Pois eles não acreditam que qualquer dessas atitudes seja benéfica. Eles se proporam permitir ao espectador julgar fatos e idéias e tomar suas próprias decisões.