Da Cama Para a Fama
Nota: 6
Imagine que, certa manhã, seu chefe o informa de que, para continuar na empresa, você terá que filmar, para fins científicos, as relações sexuais que mantém com seu cônjuge! Tomando como ponto de partida essa idéia absurda, Pablo Berger dirigiu Da Cama Para a Fama (Torremolinos 73), seu longa-metragem de estréia.
Nos anos setenta, Alfredo Lopez, um vendedor de enciclopédias à beira da demissão, é convidado para um projeto secreto: a Enciclopédia de reprodução audiovisual. De acordo com o patrão, a obra faz sucesso em países escandinavos e tem como objetivo ensinar práticas sexuais a pessoas de diferentes nacionalidades. No entanto, tudo não passa de um embuste. Seu superior quer apenas realizar filmes pornôs.
É hilário acompanhar Alfredo em seu aprendizado cinematográfico. Os rudimentos da sétima arte, ele adquire de um diretor escandinavo, que alega ter sido assistente de Ingmar Bergman. As citações à obra do diretor sueco conferem um delicioso tempero à narrativa.
Encerrado o "curso", o protagonista dá início às suas produções caseiras. Num primeiro momento, tomadas inocentes e, por fim, os repetitivos enredos das películas pornôs: dona de casa chama técnico – cada vez de um tipo – para consertar um eletrodoméstico e recebe um "trato" como cortesia.
A loucura, porém, não para aí! Depois de protagonizar dezenas de fitas com sua mulher Carmen, Alfredo sonha com vôos mais altos. Inspirado em O Sétimo Selo de Bergman, decide escrever seu primeiro roteiro sem sexo. O patrão topa desafio e contrata uma equipe escandinava. O desenrolar é impagável.
Mesmo abordando um tema polêmico, é impossível não se divertir com situação tão bizarra. A comédia flui despretensiosa, resolvendo seus conflitos com uma mescla de tristeza e alegria. Comentário inteligente sobre as relações familiares, a produção recebeu de Berger tratamento de filme pornô da época no emprego de sombreado marrom e no posicionamento de câmera. Figurinos e penteados completam a ambientação setentista.
Em um elenco primoroso, o destaque vai para Jávier Câmara no papel de Alfredo e para Candela Pena no de Carmen. A química entre ambos garantiu os prêmios de Melhor Ator e Melhor Atriz no Festival de Málaga, Espanha. A propósito, na mesma oportunidade, a película papou as categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor.
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