A Ilha
Nota: 6,5
O ano de 2005 deve ser especial para o californiano Michael Bay. Afinal de contas, é o ano em que ele completa 40 anos de vida e 10 anos da sua estréia em longa-metragem, com o divertido-até-certo-ponto-e-nada-mais-do-que-isso Bad Boys, naquele distante ano de 1995.
Vindo de uma carreira bem-sucedida no terreno da publicidade e dos videoclipes, Bay mostrou-se uma figura adequada a engrossar a turma dos parceiros de Don Simpson e Jerry Bruckheimer, dupla dinâmica de produtores de filmes de ação dos anos 80 e início dos 90. Por essa "escola" passou gente como Tony Scott por exemplo, que afinal de contas não é lá grande referência para o que se convenciona chamar de "arte cinematográfica".
Mas eis que dez anos se passaram após o supracitado Bad Boys e os seguintes A Rocha, Armageddon, Pearl Harbor, e a seqüência de seu filme de estréia Bad Boys II . Bay já não trabalha mais com a dupla Simpson (morto por overdose de cocaína durante a produção de A Rocha) e Bruckheimer, cuja parceria findou após Bad Boys II.
O primeiro filme de Bay sem seu "mestre", A Ilha, chega aos cinemas brasileiros com um impacto tão poderoso quanto os tiros dos dois Bad Boys, os meteoros de Armageddon, ou as nuvens de kamikazes de Pearl Harbor. Não que isso seja necessariamente bom, aliás, bem pelo contrário...
Até que A Ilha tem uma boa premissa. Com nítida inspiração na literatura de Aldous Huxley, desde seu título (homônimo do último romance de Huxley) até o cenário de uma sociedade automatizada (tema presente em boa parte de sua obra), o filme caminha no ritmo esquizofrênico de nenhum plano com mais de quinze segundos em todos os seus 136 minutos de duração.
A Ilha de Bay é um lugar paradisíaco, supostamente o último recanto terreno livre da intoxicação que assolou o planeta no início do século 21. A história se passa num ambiente totalmente controlado, cujos habitantes, sempre vestidos de branco, levam vidas sem objetivo, supostamente protegidos da contaminação mundial resultante de um desastre ecológico. Uma sociedade de seres autômatos e indiferentes entre si, controlada por, entre outras coisas, uma "loteria", que define quem vai para a tal ilha. O que acontece é que nesta ilha as coisas não são paradisíacas quanto se costuma mostrar na esquizóide chamada para a tal loteria. O espectador sabe desde o começo que essa tese é falsa. Na verdade, uma força policial onipotente monitora todas as funções corporais, é obcecada com a "proximidade" entre homens e mulheres na população, que vive quase segregada, e fala dos moradores, pelas costas, como "produtos".
Michael Bay mostra habilidade nas cenas de ação, apesar de muitas e na sua maioria descartáveis, breguice no uso da música, avidez em mostrar marcas famosas (aparecem, em destaque, as marcas da Microsoft, da Chevrolet, da Puma, entre outras) e, acima de tudo, sua enorme falta de competência em dirigir elenco, mesmo contando com bons nomes como Ewan Mcgregor, Scarllet Johansson, Steve Buscemi e Michael Clarke Duncan.
Existe uma lei infalível no cinema que reza que, assim que Steve Buscemi (McCord) aparece num filme, todos os melhores diálogos e as partes cômicas automaticamente funcionam. Em A Ilha, a mesma coisa acontece, e o ator, praticamente sozinho, faz o motor do filme pegar no tranco. Quando ele deixa a história repentinamente, sua ausência é verdadeiramente sentida.
O resto do filme é animado por dois elementos. O primeiro são as perseguições absurdas que acontecem nas autopistas e vias aéreas do futuro. O segundo elemento é McGregor representando tanto o Lincoln original quanto seu clone, um com sotaque escocês e o outro falando como norte-americano. Numa cena espantosa de luta, usando câmeras de controle de movimento, McGregor chega a lutar com ele mesmo.
O filme caminha bem até a metade, com idéias muito interessantes e instigantes, mas depois se perde, quando Bay resolve voltar às suas origens.
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