25 agosto 2005

Alila



Nota: 6

"Alila" é uma palavra habraica equivalente ao argumento de uma história. Ironicamente, é justamente argumento o que falta ao filme que leva esse termo no nome.

O que se vê no novo longa-metragem do israelense Amos Gitai é um amontoado de personagens e seus respectivos cotidianos. Os primeiros a serem apresentados são Ezra (Uri Klauzner) e seu filho Eyal (Amit Mestechkin). O pai trabalha de bicos e está indo contratar alguns chineses para erguer uns muros. O jovem está indo para o exército e não está nada animado com a idéia, o que deixa o patriótico pai bastante preocupado. Ele quer que o filho faça como ele, sirva e cresça pelo bem do país. O diálogo entre os dois é filmado da parte de trás da perua e a cada pausa a câmera dá uma olhada para fora, mostrando as ruas por onde passam, no subúrbio de Nehushtan, entre Tel Aviv e Jaffa.

A maior parte da história vai acontecer ao redor do prédio onde Ezra e seus empregados ilegais vão trabalhar. É um imóvel com apartamentos pequenos e de moradores bastante peculiares. O sobrevivente do Holocausto Schwartz (Yosef Varmon) vive com a jovem filipina Linda (Lyn Shiao Zamir), que cuida dele e da casa. Aviram (Lupo Berkowitch) não larga do seu cachorro. Ronit (Ronit Elkabetz) é quem está construindo ilegalmente uma casa, valendo-se pelo fato de ser delegada da cidade. Ela ergue um quarto para sua filha, que vai voltar da faculdade. Esse inclusive é um dos melhores momentos do filme: a ótima atuação de Ronit e a crítica à polícia e seus poderes infinitos.

No último aposento ficam Gabi (Yaël Abecassis) e seu amante Hezi (Amos Lavie). O local é utilizado pelo casal como um ninho de amor, um refúgio para suas escapadelas. Quando alugou o espaço de Ilan (Liron Levo) Hezi pagou adiantado, à vista, e fez questão de ser o mais discreto possível. O mesmo não se pode dizer de Gabi, que grita e geme alto e chama a atenção de todos para o que está acontecendo entre aquelas quatro paredes. Mulher independente, ela sabe muito pouco sobre o amante, mas aceita os encontros pois diz se excitar com este clima de suspense, como se os dois fossem espiões inimigos. A única pessoa com quem ela se abre a respeito desta relação é Mali (Hanna Laslo), ex-esposa de Ezra, mãe de Eyal e atual amante de Ilan.

Percebeu como as coisas funcionam? Nesta trama digna de um longa de Robert Altman todo mundo conhece direta, ou indiretamente todo mundo e, somando-se, formam um quadro da sociedade israelense. Desde os imigrantes que não têm visto para trabalhar à femme fatale que, com suas botas de cano alto e saias provocantes, quer mostrar que agora é ela quem manda.

Livremente adaptado do livro Returning Lost Loves (de Yehoshua Kenaz), Alila (2004) tem como grande problema a falta de ritmo nas histórias, que são contadas em 40 longas seqüências. Se tecnicamente o filme se diferencia ao usar uma estrutura de cenas sem cortes, por outro lado aparece debilitado pela falta de talento dos atores e de conteúdo de alguns personagens. Os defensores de Gitai, que aparece narrando os créditos iniciais, dirão que este é o retrato do dia-a-dia, a realidade do povo israelense neste início de novo século. Seus detratores, no entanto, dirão que é apenas mais um filme lento e chato que começa, termina e não diz nada. E você, de que lado vai ficar?