03 fevereiro 2005

Sobre Café e Cigarros



Nota: 7

Sabe aquela(s) hora(s) do dia em que você vira pro lado e diz: "Vamos tomar um café?" Qualquer um entende que é apenas uma desculpa para sair de alguma atividade e trocar umas idéias. Agora, imagine alguém filmar esses pequenos encontros e as pessoas envolvidas. Coffe and Cigarettes (2004), de Jim Jarmusch, é sobre isso. Um filme para pessoas que gostam de observar pessoas.

O longa é uma reunião de 11 curtas-metragens sobre diversos personagens que, bebendo café e fumando cigarros, discutem os mais variados temas, tais como picolés com cafeína, Abbott & Costello, a ressurreição de Elvis Presley, a forma correta de se preparar um chá inglês, desentendimentos familiares, Paris nos anos 1920, música e o uso da nicotina como inseticida. A realização desta série de curtas de Jim Jarmusch foi iniciada em 1986, com a gravação de um segmento para o programa de TV Saturday Night Live e só terminou 17 anos depois.

Coffee and Cigarettes já nasceu cult. Um filme experimental de um diretor que constantemente procura se desafiar com um trabalho inovador, o que lhe garantiu uma posição de destaque no cinema independente. Nesta nova produção, ele abandonou o enredo e focou em documentar uma variedade de interações divertidas e non-sense, entre atores, músicos e personagens da cultura pop.

Alguns encontros são mais interessantes e engraçados de que outros. O primeiro, com Robert Benigni (A Vida é Bela) e Steven Wright foi inteiramente filmado em 1986 e tem aquele humor surrealista. O encontro do comediante Steve Coogan (A Festa Nunca Termina) com Alfred Molina (Frida, Homem-Aranha 2) é hilário, pois Jarmusch usa a falta de fama de Molina para criar uma situação constrangedora.

A melhor performance é da atriz Cate Blanchett (Senhor dos Anéis, Elizabeth). Ela interpreta ela mesma encontrando-se com sua prima rebelde. Ela faz os dois papéis de forma tão convincente que a platéia custa a descobrir a piada. Tom Waits e Iggy Pop satirizam seus jeitos alucinados de encarar a vida. O duo de rock White Stripes aparece falando sobre o inventor Tesla, que diverte o espectador através de um improvável papo intelectual. Bill Murray tem um encontro inusitado com os artistas de hip-hop RZA e GZA. Eles não conseguem deixar de chamá-lo pelo nome completo e o aconselham sobre os males do café. Por sinal, em vários quadros o café e o cigarro são criticados e o assuntos abordados são similares.

A última história, envolvendo os contestadores culturais Taylor Mead e Bill Rice, é a mais sentimental e profunda. Mostra que ambos sobreviveram a suas rebeldias. Um fato interessante é observar a fotografia, já que diferentes diretores de fotografia filmaram a história, imprimindo seu estilo pessoal na obra.

Em Coffe and Cigarettes, Jim Jarmusch constrói mais um clássico charmoso do cinema independente.