21 janeiro 2005

O Operário



Nota: 7

Em seu quinto longa, o diretor Brad Anderson continua explorando os limites da mente humana. Encontramos em O Operário (The Machinist, 2004) todos os temas favoritos de Polanski e Hitchcock, como culpa, repressão, fixação materna e paranóia. Sem dúvida um filme denso e que requer atenção.

O filme abre com a cena de um sujeito esquálido e todo arrebentado carregando uma pessoa morta enrolada num tapete. Em seguida, ele retrocede e nos mostra que o tal sujeito que puxava um cadáver é Trevor Reznik. A última vez que ele dormiu foi um ano atrás e desde então o cansaço vem destruindo progressivamente sua saúde física e mental. Ele trabalha numa fábrica, operando maquinário pesado, faz de tudo para manter seu emprego e, envergonhado por causa de seu problema, isola-se cada vez mais, tornando-se também paranóico. Depois de se envolver num acidente em que um homem perde um braço, Trevor começa a crer que seus colegas de trabalho estão conspirando para demiti-lo. Ele precisará lutar não apenas para se sustentar no cargo, mas também para manter a sanidade.

Brad Anderson não conseguiria fazer esse filme sem a presença de Christian Bale (Psicopata Americano). Um ator da mesma escola de Sean Penn e Johnny Depp, do tipo que, quando abraça um projeto, identifica-se visceralmente com seu personagem. Bale simplesmente emagreceu um terço de seu peso para o papel. Sua figura na tela causa nervoso ao público. Para se ter uma idéia, ele parece um daqueles pobres famintos da Etiópia. Alguns podem pensar que foi um exagero sua atitude. Não foi. Para que o final do filme tivesse a credibilidade que tem, essa autodegradação era mesmo necessária.

Sua performance não se resume só ao físico. Suas expressões faciais e movimentos estão de tirar o fôlego. Bale é um ator completo, que não se importa em manter uma aura de estrela. Se precisar beijar outro homem na boca, cometer atrocidades ou simplesmente ser o bom rapaz, ele fará. Tudo em nome do projeto. Não é à toa que foi escalado para desenterrar o Homem Morcego em Batman Begins. Uma ótima escolha, devido às nuances múltiplas do milionário Bruce Wayne e do Cavaleiro das Trevas. Jennifer Jason Leigh (Em carne viva) também é uma grata surpresa no filme.

Tendo um Bale inspiradíssimo ao seu lado, Anderson tratou de construir sua obra dando um tom cinza azulado à película. Uma escolha acertada, devido ao ritmo sufocante do enredo. O filme acaba ganhando um mix que fica entre o clima noir e os ares industrial e gótico da série Além da Imaginação. A única cor viva do filme é a do carro de Ivan, vermelho. Explicar o porquê entregaria a história. A trilha sonora de Roque Banos é abertamente uma homenagem a Bernard Herrmann, compositor favorito de Hitchcock. Para aumentar o clima, ele até adicionou um órgão tipicamente usado nas produções inglesas da Hammer Films.

Mesmo influenciado pelo Clube da Luta, Amnésia e Insônia, Brad Anderson realiza um filme único. O espectador fica tentando descobrir o que está acontecendo, e conforme vai juntando as peças, entende o porquê da magreza e da expressão cadavérica do protagonista.