A Lenda do Tesouro Perdido
Nota: 5
Nossas distribuidoras continuam insistindo na tática de não exibir certos filmes para a imprensa especializada e assim tentar poupá-los de duras (e justas) críticas. O mais novo escolhido para essa manobra foi A lenda do tesouro perdido (National Treasure, 2004), da Buena Vista International, empresa da Disney. O mais patético é que dizem que a produção ficou por duas semanas na liderança do ranking norte-americano dos filmes mais assistidos. Tanto alarde e mesmo assim não exibiram o filme...
Talvez tamanha preocupação seja porque o roteiro parece o samba do crioulo doido. É uma mistura de Indiana Jones com o popular Código da Vinci. São tantos absurdos que fica difícil levar a sério o que se passa na tela. Logo no inicio, John Adams Gates (Christopher Plummer) revela a história do lendário tesouro perdido para seu neto, Benjamin Franklin Gates, ainda criança. A família Gates vem procurando esse tesouro desde o século 19. Ele foi escondido pelos fundadores dos Estados Unidos numa câmara subterrânea durante a guerra pela independência contra a Inglaterra. Já adulto, Ben (Nicolas Cage) tornou-se um arqueólogo aventureiro e acaba decifrando a última pista. Ele descobre que a tal Charlotte que tantos procuraram é um barco que congelou na costa do Pólo. A explicação para o congelamento do barco é tão ridícula que nos lembra as teorias de O Dia depois de Amanhã (2004).
Conforme a trama prossegue, começamos a desconfiar que George Washington, Benjamin Franklin, John Hancock provavelmente não tiveram muito trabalho em vencer a guerra contra os ingleses, pois a cada momento surge uma nova pista que leva a outra, mostrando que, durante as batalhas, os fundadores da América tiveram bastante tempo para elaborar o complexo caminho que leva ao tesouro. Durante sua busca, Ben acaba sendo traído por Ian (Sean Bean), patrocinador da empreitada. Isso ocorre quando Ben descobre que a próxima pista está atrás da declaração de independência. Sabendo que Ian irá roubar o documento, Ben resolve roubá-la antes.
A trama é tão inverossímil que chega a causar gargalhadas e os roteiristas ainda conseguiram criar uma origem ainda mais estapafúrdia para o tal tesouro. Segundo contam em sua história, os Cavaleiros Templários conseguiram acumular esse tesouro incalculável durante as Cruzadas. É interessante notar que para os roteiristas acúmulo é o sinônimo de pilhagem, já que nas Cruzadas, os Templários massacravam e roubavam em nome de Deus. A fim de esconder o tesouro dos ingleses, os maçons, descendentes dos Templários, resolveram enviá-lo para o Novo Mundo. Realmente os Templários tinham esse tesouro que sumiu misteriosamente no século XIV. Mas daí a dizer que ele está escondido nos Estados Unidos, nem Julio Verne conseguiria explicar.
Se o roteiro é uma desculpa mal dada para várias cenas de ação, o elenco também não faz muito esforço. Nicolas Cage repete todos os seus típicos cacoetes, não encontrando o tom do personagem. Diane Kruger, que interpreta Dra. Abigail Chase, esta lá apenas para representar o sexo feminino. John Voight deve gostar de interpretar pais de arqueólogos aventureiros, já que antes deste filme foi o pai de Lara Croft em Tomb Raider. Já Harvey Keitel parece ter aceitado interpretar o agente do FBI responsável em recuperar a declaração da independência, só pelo salário. Mas a pior atuação é de Sean Bean. Nesse tipo de filme, o vilão normalmente costuma roubar as cenas do herói. Bean, porém, demonstra que não tem o carisma necessário para interpretar o bandido.
A trilha sonora de Trevor Rabin, ex-guitarrista do Yes, incomoda mais do que empolga. Ele precisa ter umas aulas com John Williams. Definitivamente, o produtor Jerry Bruckheimer errou a mão em todos os campos dessa vez. Depois de 2 horas de projeção só conseguimos chegar à conclusão de que a Disney abraçou o projeto pensando muito mais em uma nova atração para seu parque temático do que em realizar um bom filme de aventura.
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