Papai Noel às Avessas
Nota: 6,5
Entra ano, sai ano e as táticas dos executivos de Hollywood continuam as mesmas, sempre em busca de alguma fórmula que garanta milhões e milhões de dólares em lucros. Além de reeditar os filmes (e eventualmente mudá-los completamente, como em Exorcista - o início), eles escolhem quando e quais produções devem chegar aos cinemas e as que serão lançadas direto no mercado de vídeo. Mas não pense que essas manobras são exclusividade do mercado norte-americano. Aqui no Brasil também existem dessas “mentes brilhantes”. E, como sempre, o maior prejudicado é o público, que acaba tornando-se refém dessa engrenagem. Um exemplo dessa (falta de?) estratégia é Papai Noel às avessas (Bad Santa, 2003), de Terry Zwigoff. O filme foi lançado mundialmente no Natal de 2003, mas só agora chega ao Brasil.
O motivo desse atraso é a mensagem politicamente incorreta da produção. A história de um Papai Noel assaltante, que de tanto encher a cara acaba urinando nas próprias calças, não agradava as distribuidoras nacionais, que procuravam um entretenimento mais leve para o período das festas de fim de ano. Ainda existe por aqui a máxima de que filme de Natal, por mais inescrupuloso que seja, precisa passar uma mensagem edificante. Assim, o filme não foi lançado ano passado e quase chegou agora direto nas prateleiras das locadoras.
Felizmente, devido à escassez de filmes de Natal esse ano (ou uma iluminação divina), a produção finalmente chega aos nossos cinemas. E trata-se, sem dúvida alguma, do melhor filme sobre o tema em anos, uma comédia de humor negro que esculhamba com toda a tradição natalina. Papai Noel às avessas conta a história de dois trapaceiros que visitam as grandes lojas de departamento do país vestidos como Papai Noel e um de seus duendes ajudantes. Em vez de espalhar alegria, eles usam seu disfarce para driblar o sistema de segurança e roubar as lojas onde trabalham, uma estratégia que se torna complicada quando eles encontram um garoto de oito anos. Não tem como aprofundar mais sem entregar a trama e as críticas embutidas no roteiro. Até no presente (elefante cor de rosa) pedido pelo garoto ao Papai Noel existe uma clara alusão freudiana de identificação. O filme não tenta conquistar o espectador com tombos ou peripécias. Seu trunfo reside nos diálogos hilariantes e sarcásticos dos personagens.
Billy Bob Thornton, como o Papai Noel devasso, interpreta mais um dos grandes papéis de sua vida. Sua fisionomia e trejeitos são excelentes. Um personagem perfeito para o ator destilar toda a sua ironia. Na edição especial do DVD importado, ele comenta que adorou o projeto, pois já estava de saco cheio da idiotice instalada durante o governo Bush. Para ele, o Natal virou um grande negócio e os filmes normais retratam essa realidade.
Assim como o ex-Sr. Angelina Jolie, todo o elenco está afinadíssimo. Tony Cox faz o anão que se veste de duende para ajudar o Papai Noel nos roubos. Com sua língua rápida e ácida, ele dispara ótimas tiradas. Pena que nas legendas, os palavrões cascudos e expressões preconceituosas foram trocados por palavras mais amenas. Estreando no cinema, Brett Kelly foi a escolha perfeita para o papel do garoto patético. Cloris Leachman, veterana de comédias de Mel Brooks e Gene Wilder, interpreta a avó senil do garoto numa participação não creditada e John Ritter, em seu último papel para o cinema, faz o gerente caretão do shopping, Bob Chipeska. Para completar, Bernie Mac vive o chefe da segurança e Lauren Graham, a tarada por homens que se vestem de Papai Noel. É interessante notar que todos os personagens do filme são escroques ou, no mínimo, muito bizarros.
Na trilha sonora estão todos os clássicos utilizados em filmes de Natal. Isso é mais um ironia proposital do diretor Terry Zwigoff, do ainda inédito por aqui Mundo Cão (Ghost World, 2001). O roteiro de Glenn Ficarra e John Requa ganhou um brilho especial nas mãos de Zwigoff e dos famigerados Joel e Ethan Coen, que assinam a produção executiva e são os responsáveis por certas seqüências de cair o queixo.
Talvez num primeiro momento você possa ficar apreensivo com tanta loucura, mas conforme o tempo passa é impossível ficar alheio ao filme. Inclusive não se sinta horrorizado se alguns dias após a sessão, você ainda estiver rindo das situações.
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