04 janeiro 2005

Jornada da Alma



Nota: 7,5

A história do amor proibido do famoso psicanalista Carl Gustav Jung e Sabina Spielrein finalmente chega às telas. Esse drama secreto tem fascinado historiadores e profissionais da área. Muito já foi escrito sobre o assunto, servindo de inspiração para novelas e peças de teatro. Jornada da Alma (Prendimi l'anima, 2003) é uma história real que até hoje abala as fundações da psicanálise.

Esse fato histórico chegou ao nosso conhecimento em 1977, quando foi encontrado o diário de Sabina e as cartas em que ela, Jung e Freud trocaram entre si. Sabina era uma judia russa de 19 anos que sofria de histeria. Em 1905, ela foi internada em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça. Seu médico é o jovem Jung, que aproveita a chance para aplicar pela primeira vez as teorias que aprendera com o mestre Sigmund Freud.

A cura de Sabina vem acompanhada de um caso amoroso com Jung. Anos se passam e ela retorna à Rússia e acaba se tornando psicanalista também. Em sua clínica Creche Branca, ela se especializa no tratamento de crianças. Suas teorias são perseguidas no regime de Stalin e sua clínica é destruída pela Guarda Vermelha. Em 1942, durante a 2ª Guerra Mundial, é morta por tropas nazistas. Tempos depois, sua trajetória foi resgatada por dois historiadores.

O diretor Roberto Faenza foi o responsável pela adaptação e resolveu apostar todas as suas fichas numa história de amor. Isso foi um erro. Seria muito mais interessante aprofundar não só o tratamento de Sabina por Jung, como também os métodos utilizados por ela em sua clínica. Faenza perdeu uma grande oportunidade de questionar a relação paciente-doutor, mexer com certos tabus da psicanálise moderna, procurar respostas ou motivos que fazem com que os pacientes de histeria tendam a se apaixonar por seus médicos. Só o que vemos nas telas é um Jung inseguro, perdido e agoniado. Tratando-se do renomado psicanalista, falta substância para aceitarmos tamanha imperícia.

Uma outra falha é a idéia do casal de pesquisadores que investigam o caso. Maria e Fraser procuram desvendar o mistério do passado de Sabina. Ao mesmo tempo em que certos segredos vão sendo revelados, podemos sentir que Maria começa a se afeiçoar por Fraser, uma forma batida de fazer uma correlação do amor de Sabine por Jung. Os atores Caroline Ducey e Craig Ferguson, que interpretam respectivamente Maria e Fraser, não possuem nenhuma química. Certas cenas chegam a ser risíveis.

No papel de Sabina temos Emilia Fox (O Pianista), com uma atuação digna de um Oscar. Uma performance inesquecível e rica em detalhes. Iain Glen constrói um ótimo Jung com incertezas e realmente preso num meio de uma tempestade de emoções.

A reconstrução histórica é correta, com destaque para o hospital em Zurique. Já as cenas da destruição da clínica de Sabine pela guarda vermelha e o massacre dos nazistas em Restov parecem tiradas de um filme feito para TV.

Uma pena que um assunto tão fascinante tenha sido tratado dessa forma. Pelo menos os amantes de uma boa história de amor, baseado em fatos verídicos e com ambientação de época, serão recompensados.