Para Sempre Lilya
Nota: 7,5
Mais uma vez, o sueco Lukas Moodysson (de "Bem-vindos") trabalha com as incertezas e esperanças dos adolescentes. Assim como em "Amigas de Colégio" (1998), o cineasta explorou passagens na vida de uma menina para revelar as descobertas sentimentais e a falta de perspectiva numa cidade sem muitas opções.
Em "Para Sempre Lilya", a história é mais dura e até cruel. Num drama intenso, Lilya, que tem 16 anos, vai do céu ao inferno num piscar de olhos. E, o pior, sem muitas justificativas.
A bela garota de rosto angelical vê a possibilidade de sair de uma União Soviética melancólica para viver numa América próspera, se transformar em pesadelo. Pouco antes da viagem, Lilya é avisada pela mãe que não irá mais para os Estados Unidos. A partir desse abandono maternal, tudo dá errado em sua vida.
A menina vai mal na escola, é expulsa de casa pela tia que fica cuidando dela, se droga, cai na prostituição, é enganada pela melhor amiga, passa frio e fome e, no ápice de seu desespero, a mãe renuncia à sua guarda, pois já está bem nos EUA.
Contrastando com os problemas, Lilya tem apenas a companhia do pequeno Volodya, de 11 anos, e de um quadro de uma santa, para quem reza todos os dias. Volodya não é um amigo tão promissor.
O menino também passa por maus momentos, já que é espancado pelo pai e fica o dia imaginando ser um astro do basquete. Mas, Volodya é apaixonado por Lilya. E, é esse carinho mútuo que dá forças aos dois.
Paralelo ao apelo comovente do enredo, "Para Sempre Lilya" tem um importante papel social ao mostrar como funcionam as redes internacionais de prostituição. Cansada de tanto apanhar da vida, Lilya acredita num simpático rapaz que promete uma vida melhor na Suécia.
Ao desembarcar, seu sofrimento piora. A garota é obrigada a fazer programas e sofre seguidos estupros e agressões. O filme é tocante e a própria Lilya analisa sua situação ao afirmar "Ninguém merece uma vida assim".
É difícil ficar indiferente às cenas com a menina sendo agredida e violentada. Sua beleza física remete à uma vida feliz e saudável. Mas, mesmo com tantos problemas, ela luta e acredita que pode ser feliz, mesmo que em sonho ao lado de seu anjo da guarda.
Embora o retrato da Rússia não seja lisonjeiro, a Suécia não aparece muito melhor, sendo mostrada como um país de ruas escuras com homens desumanizados que buscam sexo sem emoção.
Filmando quase inteiramente nas próprias locações, Moodysson e seu diretor de fotografia, Ulf Brantas, conseguem transmitir ao espectador até mesmo o cheiro da vida nas casas decadentes da Rússia, onde tudo está à venda e nenhuma droga é perigosa demais para ser experimentada.
Os diálogos são quase inteiramente em russo, com pouca coisa dita em inglês e sueco. No difícil papel-título, Akinshina (já vista em Sisters, de Sergei Bodrov Jr.) está ótima, e o novato Bogucharski, embora tenha um papel menor como Volodya, é um verdadeiro achado.
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