04 janeiro 2005

Sob o Céu do Líbano



Nota: 6

O Oriente Médio, de fato, ocupa o centro das atenções mundiais já há um bom tempo. Natural que este interesse também se volte para a parte cultural que os árabes podem nos oferecer. Da música, como na canção "Galvanize" do próximo álbum do Chemical Brothers, ao cinema - em especial o iraniano -, o universo artístico de lá está muito presente por estes lados.

Então, nada mais bem-vindo que o filme Sob o céu do Líbano (Le cerf-volant, 2003), de Randa Chahal Sabbag, para acrescentar ainda mais repertório nesta popularização da cultura árabe. Melhor ainda é saber que a película, vencedora do Leão de Prata em Veneza 2003, vem do Líbano, algo bem raro de acontecer, e ganha lançamento no circuito comercial no Brasil.

O filme não apresenta mistérios. É a legítima história de Romeu e Julieta transportada para as Colinas de Golã, em tempos de invasão israelense - trama similar à de A noiva da Síria (The syrian bride, de Eran Riklis, 2004), obra exibida na 28ª Mostra BR. Sabbag focaliza as aventuras de Lamia (Flavia Bechara), uma garota de quinze anos que vive na fronteira entre Israel e Líbano. De um lado da cidade, os árabes. Do outro, israelenses. Prometida para o primo Samy, que vive no lado judeu, Lamia tem que cruzar o posto de checagem o tempo todo. Ali, encontra o entediado Youssef (Maher Bsaibes), um soldado israelense.

Youssef não é nem um pouco popular na cidade. E o envolvimento dos dois é, certamente, algo muito complicado. O mais curioso é que a filosofia amorosa fica sempre fora da questão. Os dois personagens, ao contrário dos de Shakespeare, sabem muito bem toda a carga terrível que os rodeia. Nisto, uma cena é emblemática, logo no começo do filme, quando Lamia persegue seu animalzinho que invadiu o território israelense sem querer. A simbologia deste conflito está nua e crua, exposta na tela de maneira sublime.

Assim como a dura realidade que os rodeia, a aventura dos personagens, ainda que em vários momentos seja hilária, é uma ode melancólica, em que a animosidade está sempre massacrando o amor. Triste. Mas a vida naquela região em conflito é muito pior. Os sonhos de Sabbag somente eternizam as situações. É uma estirpe de cinema romântico, no literal sentido do movimento artístico do século 18.