Proibido Proibir
Nota: 7
A alegria e a dor de ter 20 anos transpiram no brasileiro Proibido Proibir, assim como amores e dissabores.
Triângulos amorosos em que dois grandes amigos se apaixonam pela mesma mulher são recorrentes no cinema. O caso clássico é Jules e Jim, de François Truffaut. Na filmografia brasileira recente, temos Cidade Baixa, de Sérgio Machado, e agora Proibido Proibir.
Não é nisso, portanto, que reside a originalidade do filme de Jorge Durán, e sim no seu enfoque de um dos grandes temas, se não o único, do cinema nacional: os impasses da classe média diante das contradições sociais do país.
Os três protagonistas são estudantes de uma universidade pública do Rio de Janeiro. Leon (Alexandre Rodrigues, o Buscapé de Cidade de Deus) estuda sociologia. Sua namorada, Letícia (Maria Flor), arquitetura. E seu amigo e companheiro de apartamento Paulo (Caio Blat) faz medicina.
Na hora de colocar à prova os conhecimentos adquiridos no campus, cada um deles tem um rico corpo-a-corpo com a cidade do Rio e, por extensão, com o Brasil. E os três acabarão envolvidos numa situação crítica quando o filho de uma paciente pobre de Paulo é jurado de morte por policiais corruptos.
"É proibido proibir", como se sabe, foi um dos slogans da rebelião estudantil de maio de 1968 na França e também título de uma polêmica canção de Caetano Veloso. O mote aponta para a liberdade absoluta, para a subversão de todas as normas repressivas.
A trama é muito bem construída, as situações são convincentes e os atores, não apenas o trio protagonista, defendem seus personagens com garra, em especial Caio Blat, que se afirma como um dos grandes talentos da nova geração.
Merece destaque também a maneira como Durán captou a geografia carioca. Na contramão da maioria dos filmes rodados no Rio, Proibido Proibir praticamente passa ao largo da orla da zona sul e dos morros favelizados, espraiando-se entre o centro e os subúrbios "planos" da zona norte e destacando (graças à carreira de Letícia) marcos da arquitetura urbana, como a igreja da Penha e o edifício Capanema.
O final em aberto, que não convém revelar aqui, é pleno de significado afetivo e político, sobretudo quando, já sobre os créditos, a voz roufenha de Nelson Cavaquinho canta o clássico samba "Juízo Final".
Chileno radicado no Brasil desde 1973, Jorge Durán, roteirista de alguns de nossos filmes mais importantes, retorna à direção duas décadas depois de seu outro único longa, A Cor do Seu Destino (1986). Cabe esperar que Proibido Proibir, premiado nos festivais de Biarritz e Havana, seja o início de uma nova e vigorosa fase.
O que o filme tem como diferencial é uma vívida intersecção entre o individual e o social, criando uma situação em que os três estudantes atravessam a fronteira invisível, porém real, da cidade dividida do Rio de Janeiro. Para localizar os filhos de uma paciente do Hospital Universitário, Paulo e os amigos acabam se arriscando numa favela, onde têm um encontro direto com a violência que só conhecem pelos noticiários.
A audácia deles nessa incursão nada tem de inverossímil. Ao contrário, mostra total coerência com a generosidade e paixão destes três seres que, por talento do roteiro e da direção, sem contar a entrega dos atores, parecem totalmente reais, de carne e osso.
Mais de uma pessoa estranhou que o filme fosse escrito e dirigido por um sessentão, o que é puro preconceito, afinal. Durán exibe uma energia que, ao que tudo indica, continuará a gerar novos e belos filmes. O próximo já está sendo preparado, novamente com Caio Blat no elenco.
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