23 fevereiro 2007

Perfume



Nota: 8

Considerado por muito tempo infilmável, o best-seller Perfume, de Patrick Suskind, chega às telas na forma de uma grande produção que se sai razoavelmente bem na difícil tarefa de mostrar o mundo dos odores e do olfato no cinema.

Perfume - História de um Assassino, de Tom Tykwer, com orçamento estimado em mais de 60 milhões de dólares, traz a história movimentada de Jean-Baptiste Grenouille, um homem cujo olfato superaguçado faz com que ele se torne um assassino em série.

Tom Tykwer, famoso pelo "videoclíptico" Corra, Lola Corra, está irreconhecível na cadeira do diretor. Nada da correria de Franka Potente, nada de cortes bruscos e música alta. Nada de empolgação. O ritmo é lento e os planos são concentrados e fechadíssimos nos momentos em que o protagonista emprega suas excepcionais habilidades olfativas. Mais um pouco e dava pra ver os cravos dentro dos poros da pele de Ben Whishaw, que vive o aberrante Jean-Baptiste Grenouille, personagem que a trama persegue de maneira perturbadora.

Grenouille, interpretado pelo novato Ben Whishaw, nasce num mercado de peixe em Paris em 1738. Sobrevive à tentativa de infanticídio por parte da mãe (que é executada por isso), às agressões dos colegas no orfanato e à infância marcada pelo trabalho infantil.

Seu único prazer é explorar Paris, principalmente com seu nariz, que tem uma capacidade singular de detectar nuances nos odores. Acaba chegando à casa de Baldini (Dustin Hoffman), um perfumista experiente que percebe a proeza do olfato do jovem e começa a cuidar dele, ensinando-lhe a arte de fazer óleos, essências e fragrâncias.

O rapaz começa a dar mostras de seu comportamento quando tenta destilar um gato. Antes, já havia matado uma moça sem querer, ao tentar mantê-la quieta, e descoberto os cheiros intoxicantes do corpo de uma mulher.

Ele vai para a cidade de Grasse, a capital mundial dos perfumes, e tem uma experiência mística, na qual percebe que seu corpo não tem um cheiro específico. O filme assume então o ritmo de um thriller, enquanto o protagonista tenta criar seu perfume final, uma junção de odores retirados das mulheres que ele persegue e mata.

A técnica é perfeita, a direção de arte, figurinos, idem. Há até bons efeitos especiais, como quando as cidades, especialmente a imunda Paris do século 18, são mostradas de ângulos abertos. Tykwer só erra a mão na duração. Estende-se desnecessariamente em cenas diversas, encantado demais com o tema, seus planos e soluções. Faltou dureza na montagem - algo que Hollywood sabe fazer muito melhor que qualquer outro lugar do planeta quando o assunto é um filme comercial. Com 2 horas e 30 minutos, Perfume é longo demais.

Traseiros quadrados à parte, há o mérito de Tykwer ter conseguido filmar o infilmável - odores. Afinal, trata-se de uma obra sobre o menos artístico dos sentidos, que consegue de certa forma ser registrado na tela através de insinuações visuais e apelando para a memória olfativa do público. O filme mantém a atenção, usando o poder das imagens para evocar os cheiros, seja de peixe estragado ou de rosas e campos de lavanda.

E há o clímax, o sensacional desfecho, e esse só estando lá mesmo pra ver (e, quem sabe, sentir o cheiro).