19 maio 2005

Visões



Nota: 6

Poder ser que a amostragem que chega ao ocidente seja bem desviada, mas não dá a sensação de que os filmes orientais de terror da moda são todos iguais? Sempre uma mulher - heroínas são uma constante em O Chamado, O Grito, Dark Water - se depara com uma assombração. No começo se assusta mas em seguida vira detetive e descobre a tragédia do fantasma enquanto vivo. Não é assim? Haja espírito rancoroso!

Com Visões (Jian gui 2, 2004) não é diferente. Trata-se da sequência de um suspense que aqui saiu direto nas locadoras, que falava de uma menina cega que faz um transplante de córnea e começa a presenciar aparições do além. A continuação, também dirigida pelos gêmeos de Hong Kong Oxide e Danny Pang, conta o que acontece quando Joey Cheng (Shu Qi) - adivinhe - começa a enxergar demais. Depois de tentar se suicidar por amor, em todo lugar ela percebe pessoas que ninguém mais vê. Já se convence da própria insanidade quando visita um monge budista que explica: são espíritos à espera de reencarnar, estão por todo lugar, dividem o mundo conosco, só os enxerga quem experimentou a morte de perto.

Joey entende, aceita com dificuldade, mas isso não lhe ajuda muito. A sua rotina continua um inferno, sustos e surtos diários, médicos que suspeitam de uma nova tentativa de suicídio. E um amor que nunca se resolve. Visões passaria batido se seguisse abordando - como muitos filmes similares o fazem - esse dom sobrenatural somente como um inconveniente.

Mas os irmãos Pang guardam uma surpresa. Joey está grávida - e a fantasma que sempre aparece ao seu encalço quer mesmo é reencarnar no bebê dela. Agora começa a ficar promissor. Uma corrida de gato-e-rato contra o tempo misturado com O bebê de Rosemary. Se antes o olhar angustiado da bela protagonista parecia um pouco cômico, esse reforço dramático lhe dá mais significado, mais intensidade e menos gratuidade. O avanço da narrativa se dá por meses, até os nove que culminarão sabe-se lá em quê. É o incerto, o imprevisível, que dá a Visões um certo fôlego.

Só não espere que esse fôlego dure. O filme, na verdade um baita sermão budista contra o adultério, ainda se encaixa no receituário do gênero, que gasta minutos preciosos para resolver questões investigativas que ou o público já solucionou ou ficariam melhor suspensas no ar. Uma certa ansiedade de parecer palatável ao gosto ocidental - o inglês é falado em vários pedaços do filme - se junta a uma trilha sonora óbvia, invasiva. Sequências visualmente fortes, muito sangue sem sentido, como o último recurso de que Joey dispõe para "salvar" seu rebento, acabam jogando contra por serem pouco realistas: mostram como os irmãos economizam aqui um talento para o horror que pode render obras melhores.