08 dezembro 2004

Viagem do Coração



Nota: 7

O cinema francês tem fama de ser feito para intelectuais. Viagem do Coração (Bon voyage, 2003), do veterano diretor Jean–Paul Rappeneau, é um filme comercial, mas com a célebre elegância francesa.

Pouco depois do início da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha invade a França e ocupa Paris. Figuras importantes como parlamentares, jornalistas, médicos e intelectuais se refugiam no hotel Splendide, em Bordeaux, uma cidade livre do domínio nazista. Quando esta elite se vê obrigada a conviver com espiões e criminosos, passa a florescer toda sorte de intrigas e alianças políticas. Mas também nascem tórridos romances, como aquele vivido por um jovem que precisa escolher entre uma atriz famosa e uma estudante, enquanto se posiciona frente a questões políticas.

Viagem do Coração lembra uma produção dos anos 1930, uma típica farsa francesa situada no mundo real. Possui um roteiro bem amarrado com ritmo vigoroso. Entre desencontros e revelações surpreendentes, Rappeneau colocou diálogos inteligentes que equilibram seriedade e humor. As piadas são simples. Um condenado frustrado com sua incapacidade de retirar suas algemas, balança os pulsos e elas caem. Uma pessoa soca uma porta desesperadamente e descobre, segundos depois, que ela está destrancada. O filme não tem um drama pesado, típico das produções sobre a ocupação nazista na França. Em vez disso, é uma história sobre pessoas tentando se adaptar a uma situação limite. Com exceção do personagem protagonizado por Peter Coyote, não há vilões no enredo, somente pessoas e suas razões.

No elenco, temos astros franceses e novas promessas. Gérard Depardieu está ótimo como sempre no papel do Ministro Beaufort. Isabelle Adjani, mesmo na pele da aproveitadora atriz Viviene, provoca risos com uma interpretação na medida. Com 48 anos, ela deve ter o seu próprio retrato de Dorian Gray, já que parece não envelhecer. As novas promessas são Gregori Derange, como o escritor envolvido nas artimanhas de Viviene, e Virginie Ledoyen (A Praia) faz Camille, uma física determinada a salvar o mundo.

O filme é muito bem editado, possui um fotografia interessante e trilha sonora de Gabriel Yared (Paciente Inglês). Tanto a cena inicial, como a final são de pessoas se divertindo dentro do cinema. Essas imagens procuram ressaltar, que a intenção de Viagem do Coração é convidar o espectador a entrar num mundo de imaginação e se divertir por duas horas. E consegue.