A Grande Sedução
Nota: 8
Desconfie de campeões de bilheterias. Normalmente são filmes que apostam em fórmulas prontas, mais fáceis da massa assimilar. Por exemplo, A grande sedução (Le grande séducion, de Jean-François Pouliot, 2003), comédia canadense que superou em casa hobbits, Neos e até mesmo As invasões bárbaras (Les invasions barbares, de Denys Arcand, 2003), se encaixa naquele tipo de comédia edificante, de auto-ajuda social, que prega a simplicidade regional contra a voraz globalização, na linha de Ou tudo ou nada (The full monty, de Peter Cattaneo, 1997).
Em tom de fábula, o acabado Germain (Raymond Bouchard) conta que, na época em que era menino, a ilhota de Saint Marie La Mauderne não era o amontoado de rochas triste e sem vida como se vê hoje. Os pescadores saíam cantando para o ofício e, na volta, faziam a alegria de suas esposas. Atualmente, com o esgotamento da pesca, todos os cento e pouco habitantes de lá vivem do seguro-desemprego. Só encontram abrigo no bar. E não vêem a hora de fugir para o continente. Germain tem um plano para mudar o lugar. Mas somente com a ajuda de todos pode fazer Saint Marie voltar aos velhos tempos.
Mas, calma. Ainda há a grande sedução do título. Para atrair a instalação de uma fábrica e garantir empregos, a população precisa de um médico residente. Germain planeja, então, convidar algum doutor da cidade grande a morar na ilha. Claro que ninguém aceita. A contragosto, porém, o Dr. Christopher (David Boutin) acaba convencido a passar um mês em Saint Marie. Para que ele resolva ficar, começa então uma intricada operação para maquiar o lugar e torná-lo... sedutor.
Eis então que se dá a transformação. Da mesma maneira que um espectador exigente se indispõe com o esquematismo, o amoral Christopher chega cheio de preconceitos. Mas não demora até que ele - e nós - sejamos convencidos. A grande sedução começa a revelar os seus atributos. Os personagens que, à primeira vista, parecem caricaturas irritantes, aos poucos ganham humanidade. Alguns deles, aliás, como o caixa do banco, se mostram incrivelmente cativantes. Montar o elenco com amadores, moradores de Harrington Harbour, locação das filmagens, acaba como trunfo principal da película.
E os floreios armados para iludir Christopher são uma delícia. Fãs de hóquei, os habitantes fingem que são loucos por críquete. As mulheres se insinuam. Mergulhadores prendem peixes à sua linha de pesca. Christopher começa a achar dinheiro na rua. E por aí vai. Não dá para resistir. É como o rato que avança no queijo mesmo sabendo da ratoeira. Grande sedução, na verdade, é deixar-se levar por um filme mesmo sabendo desde a primeira cena como ele vai terminar.
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