A Voz do Coração
Nota: 6
Quando entrou em cartaz na França, em 17 de março deste ano, A Voz do Coração (Les Choristes, 2004) teve cinco semanas com média superior a 700 mil espectadores. Este começo invejável tornou o longa de estréia do cineasta Christophe Barratier uma das grandes surpresas do ano, pois seus mais de 7 milhões de espectadores foram superiores, por exemplo, ao conseguido por Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.
A história não tem novidades para quem já assistiu a Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989) ou Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997). Mas não foram estes filmes hollywoodianos que inspiraram Barratier a escrever seu roteiro. Sua principal influência foi La Cage Aux Rossignols (de Jean Dréville, 1945). Músico de formação, foi lá que ele encontrou a história de um inspetor que chega a uma rígida casa de correção e consegue mostrar aos jovens que há, sim, uma saída para aquela situação.
Em A Voz do Coração, o inspetor Clément Mathieu é interpretado por Gérard Jugnot. O ano é 1949 e logo que ele chega ao reformatório é apresentado às "brincadeiras" dos delinqüêntes que habitam por ali e também fica sabendo que o lema do lugar é "ação / reação". Se alguém faz algo que não deveria, vai trabalhar na limpeza, apanhar, ou passar um tempo na solitária. As duras regras foram implementadas pelo diretor Rachin (François Berléand) e fazem do local um presídio. Com tanta pressão e punição, acaba não sobrando espaço para que o potencial dos garotos seja descoberto, e mesmo os que estão ali apenas por serem órfãos podem acabar se corrompendo.
Cabe ao professor novato, um músico frustrado, mudar algumas regras e abrir as exceções que devolvem aos meninos a alegria de viver. O atalho é através da música. Com a formação de um coral ele não só consegue a atenção dos meninos, como também ganha seu respeito e admiração. A estrela do time é Pierre Morhange (Jean-Baptiste Maunier), um garoto problemático de rosto e voz angelicais e atos quase diabólicos. Nesta disputa entre o bem e o mal, a força e o jeito, o amor e o ódio, que Barratier consegue envolver o espectador e ganhar, ele também, seu respeito e admiração. A prova disso é o altíssimo número de pessoas que viu o filme e sua indicação para representar a França no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro do ano que vem.
O cineasta consegue equilibrar a dramaticidade do tema com o lirismo das músicas e a comicidade que só crianças puras de coração conseguem enxergar numa situação destas. E não precisa ficar com medo dos números musicais, pois a história tem apenas 1h35 e é mais fácil você sair de lá cantando do que dormir no meio da projeção.
Mas é nas atuações que o longa tem seu principal diferencial. Contar com atores renomados como Jugnot facilita o trabalho de qualquer um, mas quando o diretor opta por utilizar garotos, na sua maioria sem experiência, e consegue emocionar o público, é porque o trabalho foi bem feito. Jean-Baptiste Maunier foi encontrado no coral Petits chanteurs de Saint-Marc, de Lyon, e realmente faz aqueles belíssimos solos. Depois que o filme entrou em cartaz, ele virou uma estrela e o número de crianças se inscrevendo em corais aumentou bastante. Para um cineasta (e para um professor), não há nada melhor do que saber que seu objetivo foi atingido.
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