Eu Não Tenho Medo
Nota: 7
Filme com crianças, e ainda por cima italiano... Já dá para prever o que vem embutido no drama de formação Eu não tenho medo (Io non ho paura, 2003): junte os lenços e prepare-se para os soluços.
O estilo edificante do diretor Gabriele Salvatores já havia sido validado quando Mediterraneo (1991) ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Aqui ele repete a dose, baseado no best-seller homônimo de Niccólo Ammaniti, publicado em 2001.
Paisagens idílicas, perfeccionismo técnico, tom cerimonioso e personagens cativantes se reúnem na difícil passagem da juventude à maturidade de Michele (Giuseppe Cristiano). Filho de família humilde, ele cerca-se de amigos num pequeno povoado italiano, mas prefere mesmo é rodar solitário em sua bicicleta pelos campos de trigo.
Certa tarde, Michele perambula numa construção abandonada e descobre, dentro de um buraco escamoteado, o menino Filippo (Mattia Di Piero) amarrado. Passado o susto inicial, a cada dia Michele se aproxima mais do prisioneiro. Leva-lhe comida, oferece ajuda - sem nunca contar o segredo à família. A coisa aperta, mesmo, quando Michele descobre na TV que Filippo foi seqüestrado. E piora quando descobre que pessoas do povoado podem estar envolvidas.
Amizade, coragem e todo tipo de virtude marcam a aventura. Você já conhece essa história. E se assistiu às fábulas juvenis de Stephen King, tipo Conta comigo (Stand by me, de Rob Reiner, 1986), sabe melhor ainda como a trama desembocará em um episódio traumático, em nome de nobres valores.
O problema maior de Salvatores não é remastigar esse subgênero à exaustão. A grande deficiência de Eu não tenho medo - comum a todo candidato a fenômeno de massa - é entregar tudo ao público sem exigir que este pense sozinho. Não seria preciso forçar a emotividade para fazer-se entender. Temos aqui, como exemplo, a sequência em que Michele, perturbado, assiste à colheita feroz das máquinas agrícolas. É uma alegoria belíssima de um certo desencanto comum ao amadurecimento.
Pena que seja só um momento breve de luz, num melodrama igual a tantos outros.
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