Exorcista: O Início
Nota: 5
Em agosto de 2001, a produtora Morgan Creek Films contratou John Frankenheimer (Ronin, A Ilha do Dr. Moreau) para dirigir o novo filme da cinessérie O Exorcista, iniciada em 1973 por William Friedkin (Caçado). Um ano depois, quando as filmagens deveriam começar, problemas na coluna afastaram o diretor - que acabou falecendo - da produção. Em agosto de 2002, Paul Schrader (Gigolô americano) assumiu a produção e tudo parecia bem.
As filmagens seguiram até abril de 2003 e o estúdio comemorou sua conclusão. No entanto, parece que nenhum dos produtores tinha visto qualquer trecho do filme, já que alguns dias depois foi anunciado que Schrader fora despedido do projeto por não ter conseguido colocar nojeiras e sustos em quantidade suficiente. A abordagem psicológica dada pelo cineasta ia contra tudo o que os investidores esperavam para seu alardeado terror.
Entra em cena então Renny Harlin (Do fundo do mar, 1999) que deveria apenas inserir algumas cenas novas e aumentar o sangue, escatologias, etc. Mas o estúdio se empolgou e deu carta branca ao diretor para ignorar o trabalho de Schrader e criar um novo filme. Sugestão que foi seguida e concluída em fevereiro de 2004.
Não é preciso ser um especialista para imaginar que todo esse problema durante a produção de Exorcista: O início (Exorcist: The Beginning, 2004) é de longe muitíssimo mais interessante do que o produto final. Não há criatividade que resista sob o bafo quente dos produtores de Hollywood. Difícil pensar em um destino mais triste para este prelúdio de um dos filmes mais assustadores de todos os tempos.
A premissa era genial: mostrar o passado do Padre Lancaster Merrin (Stellan Skarsgård), antes dele se tornar um exorcista, algo que foi bastante comentado no filme de 1973 (quando o personagem foi interpretado por Max von Sydow).
A nova história mostra o arqueólogo afastado da batina, tentando esquecer os horrores da Segunda Guerra Mundial ao liderar a escavação de uma improvável igreja bizantina no Quênia. Entretanto, com a descoberta de uma cripta ainda mais antiga que a edificação, uma força demoníaca - a mesma que possui a menininha Regan (Linda Blair) no original - é liberada, aparentemente encarnando em um garoto nativo sob os cuidados da bela médica Sarah (Izabella Scorupco). Em pouco tempo a loucura começa a tomar conta do vilarejo, criando um horror ainda pior do que o presenciado pelo padre no passado.
Apesar de toda a força da história, o resultado é medíocre. Esqueça o sofrimento da linda garotinha tomada pelo demônio Pazuzu e vai transformando-se lentamente em um pesadelo vivo. Em Exorcista: O Início, o que conta são os sustos fáceis, os gritos e a sofrível computação gráfica. Que saudade do boneco de cabeça giratória!
Claro que nem tudo é imprestável no filme. O competente Skarsgard se esforça como Merrin, mas é totalmente apagado pela ruindade da encarnação do demônio nas cenas derradeiras. A maquiagem da criatura é evidente, malfeita e os cortes para o boneco 3D são tão gritantes e desnecessários que sugam toda a qualidade da atuação do ator. Mais feliz é o lendário fotógrafo romano Vittorio Storaro (Apocalipse Now) que garante ao filme suas únicas qualidades reais - a paleta de cores e a iluminação. O restante, nem um pacto com o demônio salvaria.
Felizmente, o fracasso de público e crítica ajudou a sepultar logo a produção nas telas. O filme falhou miseravelmente nas bilheterias - e mereceu. No entanto, terá uma nova chance em breve, já que o estúdio - ciente da porcaria que fez - revelou que o DVD do filme terá a versão recusada de Paul Schrader. Irônico, não? O lixo de ontem em socorro do lixo de hoje.
Que Pazuzu nos proteja!
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