07 dezembro 2004

Capitão Sky e o Mundo de Amanhã



Nota: 6,5

O ano de 1939 foi um dos mais importantes na história do cinema. Foi quando foram feitos filmes como E o Vento Levou e o Mágico de Oz. Foi também nesse ano que aconteceram avanços tecnológicos - tanto que foi concedido pela primeira vez o Oscar de Efeitos Especiais e o prêmio de Fotografia foi dividido em duas categorias, preto e branco e colorida. Mais de 60 anos depois, o final da década de 30 volta a ser notícia no cinema - e, de certa forma, fazer história. Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, uma verdadeira festa retrô-tecnológica, ou, em outras palavras, a ficção científica que qualquer nerd sempre fantasiou.
Praticamente tudo o que aparece na tela não existe. Exceto pelos atores e alguns objetos, o filme inteiro foi criado em computador. As cenas foram rodadas em digital usando um fundo azul e os intérpretes contracenando com o nada. Mais tarde, o diretor estreante Kerry Conran utilizou programas de computador para dar vida às mais delirantes fantasias, como o dirigível Hindenburg III passeando pelos céus de Nova York, ou robôs gigantescos destruindo as ruas da cidade.
Os distribuidores, produtores e parte da mídia vendem o filme como 'a mais nova revolução do cinema'. Não é para tanto. Capitão Sky certamente é um marco nos efeitos especiais. Conran conseguiu criar imagens autênticas, atingindo um nível de excelência que gente bem mais famosa não conseguiu, com um ataque de clones. Por outro lado, essa festa visual é a grande amarra do filme. A necessidade de ter uns três ganchos na narrativa a cada rolo e a vontade de agradar o tempo todo impedem que o filme realmente seja uma grande obra para entrar na história do cinema.
É provável, que no futuro Capitão Sky seja conhecido apenas como o filme que usou o fundo azul pela primeira vez - afinal, o longa tem mais qualidades tecnológicas do que dramáticas. O roteiro vai mostrando sua fragilidade à medida em que a narrativa avança. As belas imagens seduzem a platéia, mas os diálogos vão ficando cada vez mais óbvios e previsíveis.
Esse pode ser um preço razoável a se pagar. Afinal, o belíssimo visual do filme faz com que os pouco mais de 100 minutos passem voando. Os tons de sépia, azul e prata que dominam a fotografia além de uma imagem borrada dão um ar nostálgico de uma foto antiga consumida pelo tempo. Os figurinos criados por Stella McCartney, a direção de arte e a edição valem-se de temas e padrões antigos, dando um look novo aos aparatos.
No final da década de 30, cientistas famosos estão desaparecendo em diversas partes do mundo. A repórter Polly Perkins investiga o caso. Isso acaba coincidindo com a invasão de Nova York por um exército de robôs gigantescos. As autoridades contatam o Capitão Sky (Jude Law), uma espécie de pirata aéreo que topa qualquer parada, para com sua frota botar ordem no caos.
Isso acaba colocando Polly e Sky lado a lado novamente. Eles têm uma história de amor mal-resolvida. As discussões à la Jejum de Amor são alguns dos melhores diálogos do filme - principalmente a piadinha final. A dupla irá investigar os robôs e o desaparecimento não só dos cientistas, mas também de Dex (Giovanni Ribisi), uma espécie de braço direito de Sky. Um trabalho que os leva ao Himalaia e também para um vale em Shangri-lá.
Essa jornada, aliada à falta de tato de Conran para conduzir roteiros, faz Capitão Sky sofrer de altos e baixos com o tempo. Por isso, acaba sendo um alívio quando a personagem de Angelina Jolie, uma comandante britânica, entra em cena, dando um novo fôlego à trama. E que fôlego! Ela aparece praticamente no último terço da história, mas a bela atriz, com sua sensualidade nata e um tapa-olho sexy, levanta os ânimos. Ela, aliás, pode ter a ver com a separação de Sky e Polly.
Como todo bom cinema feito por aficcionados (à la Tarantino), Conran colocou uma centena de referências, que vão desde screwball comedies, passando por ficções e fantasias como King Kong (1933) e Metrópolis (1927), de Fritz Lang, além das mais explícitas, como O Mágico de Oz e O Morro dos Ventos Uivantes (1939).
O elenco tem o apelo certo que pede o pacote. Gwyneth nunca esteve tão bem e tão loira platinada. Sua Polly revela-se uma mistura de uma mulher dissimuladamente indefesa com uma repórter bisbilhoteira. Law, um dos produtores do filme, também faz um Sky ao mesmo tempo sedutor e arredio.
Não foi apenas 1939 que foi 'ressuscitado' em Capitão Sky; Há também uma participação muito especial de Sir Laurence Olivier, morto em 1989, que aparece em imagens de arquivo, num dos momentos mais bem sacados do roteiro.
Com tudo isso, o filme acabará tendo apelo tanto junto ao público mais nostálgico, que sente falta de 'filmes à moda antiga', como com os mais jovens ávidos por efeitos especiais. Essa tecnologia, aliás, é usada de forma bem coerente, evitando-se assim constrangimentos tecnológicos como Eu, Robô e A Liga Extraordinária.