Cazuza
Nota: 6
Verdade seja dita: não sou fã de Cazuza, nunca fui e não me imagino me tornando um. Não nego seu talento mas suas músicas simplesmente não se encaixam no meu gosto musical. E como dizem, gosto não se discute, se lamenta. Agora, nessa resenha em hora nenhuma falo de Cazuza como pessoa ou como música. Falo como filme. O filme pode ser lendário de um artista medíocre (quem não viu Lou Diamond Phillips interpretando Richie Valens em La Bamba?) ou medíocre sobre um artista lendário (onde este se encaixa).
Até mesmo para quem nunca foi fã de Cazuza é fácil não se surpreender com o filme que, teoricamente, conta a trajetória do cantor desde o início de sua carreira em 1981 até sua morte nove anos depois. Ao invés de se concentrar em aspectos da vida do cantor que sejam desconhecidos do grande público, o filme mostra de forma romanceada sua relação com os membros de sua banda, as drogas e a família. Se por um lado Cazuza mostra-se sempre como um revolucionário, querendo sempre romper barreiras, por outro percebe-se um rapaz mimado, filho de pais super-protetores e que conseguiu sua grande chance de forma quase nepotista, ao invés de baseada em seu talento. Afinal, seu pai João Araújo, interpretado com primor por Reginaldo Faria, era o presidente da gravadora Som Livre, onde arrumou um emprego para o filho. Sua mãe, Lucinha, vivida pela sempre talentosa Marieta Severo, acaba se mostrando condescendente aos péssimos hábitos do filho, cujo talento era realmente inegável e foi mais que comprovado ao longo de sua carreira.
Mas o que seria interessante ver em Cazuza: o tempo não pára? O que nós não vimos. O filme perde boa parte de seu tempo de projeção mostrando shows do Barão Vermelho. Se mostrassem imagens reais, como fizeram com o Rock 'n' Rio, aí sim. Mas não, mostram os atores dublando as músicas da banda. Em certos momentos isso cumpre uma função como mostrar a forte amizade entre Cazuza e Frejat apesar das discussões constantes entre os dois. Mas na maior parte do tempo, apesar de serem feitos usando uma estética extremamente anos 80 e que simboliza muitíssimo bem a cena do rock da época, ainda assim é uma perda de tempo. A promiscuidade do cantor que literalmente visitava construções e pagava operários por favores sexuais é deixada de lado.
O show fica mesmo nas mãos do Daniel de Oliveira. Não só pelo filme se concentrar apenas nele, mas por sua atuação sincera mesmo que às vezes um pouco política. Responsável por isso é a direção de Sandra Werneck e Walter Carvalho que mostram o cantor mais como um ícone, sempre poeta e galante, do que como um ser humano. Ou seja, mesmo quando ele não tem a menor razão em atitudes que toma, suas respostas são sempre convincentes e o filme acaba dando razão para ele em tudo. Como se pregasse um "Cazuza morreu mas viveu intensamente" sendo que mesmo em entrevistas dadas na época em que já estava sofrendo extremamente com os efeitos da AIDS, o cantor se mostrava, de certa forma, arrependido.
Cazuza: o tempo não pára não é um filme ruim. É apenas um filme que parece ter sido feito por fãs e por isso não deixa grandes impressões. Fatos curiosos e importantes para a formação do personagem, como de onde saiu a influência da MPB em suas canções, é deixada de lado e colocada como uma simples vontade de variar. Um cantor que durante toda sua vida teve diversos artistas frequentando sua casa devido a posição de seu pai na Som Livre. Por sorte, Cazuza é um personagem curioso e atraente. E por mais que a direção de Werneck e Carvalho seja competente e os atores se mostrem à vontade em seus papéis, um pouco mais de ousadia e pesquisa não fariam mal ao roteiro. Que funciona. Tem bons momentos. Mas o interessante em um filme biográfico é conhecer o personagem e não simplesmente rever o que já vimos.
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