Mais Estranho Que A Ficção
Nota: 7
No lançamento de Mais Estranho que a Ficção, durante o Festival de Toronto, em setembro do ano passado, Emma Thompson e Dustin Hoffman defenderam que o filme tinha um "roteiro brilhante" e que "não há muitos como esse em Hollywood". A crítica também elogiou, ressaltando que o filme era uma espécie de Charlie Kaufman "mais palatável". Porém o resultado é mais linear e menos estimulante.
Dirigido por Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca) e escrito pelo novato Zach Helm, 31, o longa pertence, de fato, à escola de filmes em que os roteiros fantásticos, às vezes confusos, sempre absurdos, são as estrelas. E dos quais Quero Ser John Malkovich, Adaptação, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, todos de Kaufman, são exemplos.
"Acho que filmes como O Show de Truman, e até mesmo alguns mais antigos de Woody Allen, como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, anteciparam isso, tornando roteiros assim mais fáceis de produzir", disse Forster à Folha, em Toronto.
"Mas Charlie Kaufman levou isso para outro nível, com histórias realmente diferentes. É importante que ele tenha tido essa força."
Ao assumir esse texto, parece que o cineasta Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca) se sentiu como Spike Jonze ou Michel Gondry diante de uma típica trama de revelações e reviravoltas escrita por Charlie Kaufman. Mas o universo de Kaufman é cínico e debochado, enquanto o de Helm é romântico e melancólico. A diferença se faz notar no tom da narrativa e, em especial, na interpretação de Ferrell.
Ele é Harold Crick, um solitário cobrador do Imposto de Renda, profissão odiada por todos. É um apalermado, que passa a ouvir uma voz narrando gestos e fatos de sua vida mecânica e sem graça.
O espectador logo descobre que a voz pertence à escritora Kay Eiffel (Emma Thompson), que enfrenta sério bloqueio criativo. Essa narração onipresente e imprevisível interferirá na rotina de Crick e fará seu caminho cruzar com o de seu interesse amoroso, a doce confeiteira Ana Pascal (Maggie Gyllenhaal). Mas ele precisará agir quando a voz fala em sua morte.
No mundo da literatura e dos tipos anônimos, Forster e Helm contaram com ótimo elenco para erguer mais um elogio às iniciativas transgressoras. Se o espectador raciocinar, a premissa se torna impossível de engolir. Seu maior defeito é chegar tarde num filão já explorado com qualidade.
Maggie Gylenhaal, no papel de uma padeira cujos impostos Crick precisa analisar, está especialmente sexy no filme, mas os dois não fazem muito sentido como casal.
Quando não está tentando conquistar Gylenhaal, Crick tenta fazer sentido da situação inusitada em que se encontra. Para isso, vai procurar o professor de literatura Jules Hilbert (Dustin Hoffman), que, de maneira cômica, analisa os problemas de Crick na vida real através da ótica da teoria. No momento mais divertido dessa parte, o professor manda Crick juntar evidências para descobrir se o romance do qual ele é protagonista é uma comédia ou uma tragédia.
Enquanto isso, a única razão pela qual Crick ainda não morreu é que sua criadora está sofrendo um bloqueio criativo. A escritora Kay Eiffel (Emma Thompson) é um exemplo exagerado de angústia existencial, fumando sem parar, enquanto sua assistente, Penny (a subaproveitada Queen Latifah), faz o que pode para redespertar sua imaginação.
Mas a necessidade hollywoodiana de resolver os nexos da trama leva o filme a perder as nuances. Ao planificar as dimensões da criação e da criatura, impor aos personagens um ponto de contato através da figura de um professor de literatura, o filme vira uma ficção qualquer, onde o que interessa é dissolver os nós e garantir um final que não perturbe a crença na solução apaziguadora da "felicidade". O que o torna um filme agradável, mas muito menos estranho do que pode ser uma ficção.
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