20 outubro 2005

Os Irmãos Grimm



Nota: 5

Depois de mais de um ano pegando poeira nas prateleiras do estúdio, a Miramax finalmente lançou Os Irmãos Grimm, novo filme de Terry Gilliam. Mas seria Grimm um bom filme? Afinal, talvez esse seja o trabalho menos pessoal de Gilliam que teve diversas brigas com o produtor Harvey Weinstein. Aliás, eles até deixaram o filme de lado por seis meses para que ambos os lados esfriassem a cabeça e pudessem, com os espíritos renovados, analisar o filme de modo mais distante e crítico para entrar em acordo em suas divergências. Dizem ambos que no final tudo deu certo e que a mídia especula muito sobre o que seriam brigas normais entre produtor e diretor.

Durante a dominação francesa da Alemanhã, dois irmãos, Jacob (Heath Ledger) e Wilhelm (Matt Damon) Grimm, são famosos por matar monstros, bruxas e outros seres sobrenaturais. Na verdade, são dois farsantes que usam truques de luzes e fios para simular assombrações e arrancar dinheiro das pessoas. Até que o francês general Delatombe (Jonathan Pryce) os captura e os força a desvendar o mistério do desaparecimento de onze crianças em uma vila distante. Acompanhados do sádico Cavaldi (Peter Stormare), braço direito do general, eles contam com a bela Angelika (Lena Headey), uma caçadora amaldiçoada cujas duas irmãs estão entre as desaparecidas, e que vai guiá-los pela floresta.

Muito foi dito sobre o roteiro de Ehren Kruger que, realmente, não é dos melhores. Às vezes é até mesmo um pouco óbvio. Imagino como seria antes de Gilliam e Tony Grisoni terem feito várias alterações. Apesar de que eles não são creditados como roteiristas mas como "Dress Patern Makers" por terem feitos diversas novas costuras em um roteiro retalhado. Mas ainda assim conta uma história eficiente e divertida, brincando com o conceito de que os verdadeiros irmãos Grimm, famosos pelos seus contos de fadas, teriam se inspirado em "fatos reais".

Mas o filme se apóia exatamente nisso, na capacidade que temos de acreditar nos contos de fadas. Em querer acreditar em algo que não é real e, ao mesmo tempo, acreditar em si mesmo. E mais, querer que acreditem em você. Não só no que você diz mas em sua capacidade. Em dar um voto de confiança ao próximo que, por mais que comece como alguém mais tímido e "inferior", possa no fim andar ombro a ombro com seu igual. Até mesmo salvar o dia.

Um dos pontos altos do filme é a interação entre os personagens. A química entre Damon e Ledger, este um pouco mais teatral e eficiente, é muito boa, assim como os poucos minutos de projeção de Monica Bellucci que faz aqui o que faz de melhor: ser linda, sexy e completamente apaixonante. Headey parece ser uma escolha mais adequada para o papel de Angelika do que Samantha Morton, a escolha de Gilliam que foi rejeitada pelos Weinstein, por ter uma beleza mais óbvia. Afinal, para encantar os dois irmãos, não basta apenas ser a mocinha esquisita do filme. Os personagens de Pryce e Stormare são divertidos mas um pouco cansativos mas nada que abale o resultado final do filme.

Destaque para a trilha sonora de Dario Marianelli que, misturando elementos de suspense com velhas canções de ninar, consegue criar um efeito familiar e ainda assim apavorante como os próprios contos dos Grimm que, ao passar dos anos foram se tornando mais brandos mas que em sua essência são grandes histórias de horror.

No fim das contas, Os Irmãos Grimm talvez seja o filme mais problemático de Gilliam. E ainda é melhor do que 90% do que se vê do atual cinema hollywoodiano. Principalmente porque o filme tem uma boa qualidade: ele consegue ao mesmo tempo misturar uma história absolutamente fantástica com um visual de contos de fadas mas com uma bela fotografia quase realista, com cores de mesmo tom que permeiam cenas inteiras e passando sensações específicas. O clima sombrio do filme, lembra a mente de Tim Burton, sem ter o mesmo charme dos filmes do diretor. A sensação dark e mística, que permeia aquele período histórico, nos remete a filmes como A Vila ou O Pacto dos Lobos.

Os Irmãos Grimm pode ser um pouco assustador para as crianças mas é o tipo de filme que eu adorava quando moleque, como Willow ou Goonies (sem a mesma magia, claro). É diversão para o público a que se pretende induzir. Para mim faltou mais monstros e mais efeitos especiais.