20 outubro 2005

O Terceiro Olho



Nota: 6


Se você tem alguma crença mística, O Terceiro Olho (The I inside, 2003), de Roland Suso Richter, é um interessante mergulho na discussão etérea. Se você é daqueles que acreditam piamente na capacidade humana, então o filme pode ser visto sobre os olhos da filosofia, da metafísica.

Este é justamente o trunfo desejado pelo diretor, que ali realiza uma obra contida - talvez por incapacidade própria. Ou seja, apostou mesmo suas fichas na idéia teatral de Michael Cooney, dramaturgo da obra original e também roteirista da película. Eles trabalham com um tema interessante, da memória, do poder da mente, mas têm o confronto direto de grandes filmes como Amnésia e Efeito Borboleta. Talvez esse seja o maior desafio do filme, que em nenhum momento consegue superar isso. Não trabalharam com um tema novo e não inovaram quase nada.

Na fita, Ryan Phillippe vive Simon Cable, que acorda em um hospital sob os cuidados do doutor Newman (Stephen Rea). Porém, Cable está com amnésia temporária, não sabe em que ano está, quem é sua esposa e porque foi parar lá. Num primeiro momento, pensa que Clair (Sarah Polley) é sua esposa, mas descobre que, de fato, é Anna (Piper Perabo).

Neste ambiente confuso, Cable começa a descobrir situações macabras, que culminaram com a morte de seu irmão Peter (Robert Sean Leonard). Porém, esta descoberta se dá através de viagens no tempo - entre 2000 e 2002.

Falar mais da trama pode acabar com a suposta surpresa que ela contém. Misticismo? Paranóia? Filosofia? Tempo circular? Richter é claramente influenciado pelo nervoso Alucinações do Passado (Jacob´s Ladder, 1990), obra magistral de Adrian Lyne. Porém, entrega pistas demais do rumo da trama - se você prestar atenção logo no começo, terá a resposta de tudo o que acontecerá depois.

Ainda que Ryan Phillippe se esforce para convencer na trama, o fato é que o filme carece de tutano em sua delicada digressão, uma vez que a abordagem técnica é totalmente convencional. Mas a julgar pela quantidade de filmes ruins que chegaram nos cinemas em 2005, O Terceiro Olho não faz feio. Pena que, para variar, a pasteurização é o porto seguro de diretores sem ousadia. O diretor acerta em não fazer algumas concessões -o filme é passado quase que somente em ambientes internos, aumentando a claustrofobia-, o elenco é bom -há Stephen Rea e Sarah Polley, entre outros-, mas, ao final, o espectador fica com sensação de déjà vu, tal qual o protagonista. Faltou ousadia.