Contra a Parede
Nota: 8,5
Sensação dos festivais europeus de cinema no ano passado e vencedor do Urso de Ouro em Berlim, a produção alemã Contra a parede (Gegen die Wand, 2004) coleciona justos prêmios de direção, atuação e melhor filme. O longa de Fatih Akin traz um poderoso melodrama rock´n´roll regado a sexo e drogas, mas que entrega aos seus protagonistas uma inusitada sensibilidade romântica como tábua de salvação.
O filme é centrado nos filhos de turcos na Alemanha, uma geração que vive entre os rígidos costumes de seus pais e a modernidade do rico país europeu. Os personagens principais são Cahit (Birol Unel) e Sibel (Sibel Kekilli), que se conhecem numa clínica para o tratamento psicológico de suicidas. Ele é um bêbado fracassado coletor de garrafas numa casa noturna. Ela, uma bela jovem que deseja aproveitar a vida, mas que vive presa aos costumes da família. Persistente, Sibel convence Cahit a casar-se com ela. Um casamento de conveniência, sem qualquer tipo de envolvimento, em que ela cuida da casa e aproveita a distância da família para atirar-se numa existência hedonista. A relação logo começa a ultrapassar a barreira auto-imposta da ficção e ambos começam a desenvolver sentimentos um pelo outro.
Até aí, o longa parece uma óbvia história de amor. É até bem-humorado, principalmente pela transformação de Cahit, que passa lentamente de bêbado descontrolado a marido preocupado. Se fosse em Hollywood, haveria um pequeno desentendimento para complicar as coisas antes da união derradeira, que deixa o público com o típico sorriso pausteurizado das comédias românticas... felizmente, Contra a parede foge dessas estruturas fáceis e inicia nesse ponto uma série de reviravoltas desconcertantes.
Cego de ciúmes, Cahit provoca uma tragédia e vai preso. Sem destino, a perturbada Sibel foge para a Turquia, onde não consegue viver em paz com a prima workaholic. Inicia-se então um ato de extrema violência, em que a personagem mergulha num comportamento destrutivo, sem retorno.
Os problemas do casal vão aumentando de tal forma que certas cenas parecem gratuitas numa primeira análise. No entanto, estão longe disso. Servem para mostrar a medida das personalidades violentas e lamentavelmente carentes de ambos, algo que é transmitido com extrema competência por Unel e Kekilli. É impossível desviar o olhar mesmo nas cenas mais chocantes, tal a força dos atores e de seus personagens.
Qualidades à parte, os bastidores do longa também trazem uma história interessante. Depois de aclamada como Melhor atriz em diversos festivais de cinema europeus, Sibel Kekili, 24 anos, foi o centro de um escândalo. Um tablóide alemão descobriu que ela fez 8 filmes pornôs até 2002 e tentou reduzi-la de promissora sensação do cinema a artista vulgar. Felizmente, como tantos escândalos do tipo, a comoção durou pouco e foi resumida com grande estilo pelo ator alemão Mathieu Carriere (Lutero): "É melhor sair dos pornôs e chegar ao Oscar que seguir o caminho contrário".
O único grande revés da situação foi mesmo a reação do pai da artista - também um turco - , que declarou nunca mais querer vê-la, já que "a desgraça é grande demais para a família". Curiosamente, o pai de sua personagem em Contra a parede tem uma reação idêntica quando descobre as trapaças da filha.
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