06 outubro 2004

Redentor



Nota: 7

Mais um bom filme da nova safra do cinema nacional. Com uma história um tanto quanto pretenciosa, o tom de comédia acaba tornando o filme mais light. Os atores trabalham muito bem, de uma maneira geral, com destaque claro para Pedro Cardoso (que já vinha bem no cinema nacional, com O Homem que Copiava) e Miguel Falabella. O filme já é gostoso de se assistir, e mesmo assim os dois atores levam a produção nas costas. Vale a pena assistir. Não é um humor tão negro quanto Cama de Gato, mas achei esse filme muito superior ao outro.Na década de 70, no Rio de Janeiro, o bairro da Barra da Tijuca era uma espécie de terra prometida da cidade. Uma das várias construções no local era o Condomínio Paraíso, um luxuoso edifício que seria construído pela empreiteira do Dr. Sabóia (José Wilker). Célio, ainda criança, fica impressionado com a maquete do empreendimento, mostrada por seu amigo Otávio, filho do Dr. Sabóia. Com a empolgação do filho, seus pais decidem por comprar um apartamento no Condomínio Paraíso, o de número 808. Entretanto, apesar de terem pago todas as prestações durante anos, a família de Célio jamais chegou a ocupar o novo apartamento. Isto porque o Dr. Sabóia, após vender os mesmos apartamentos várias vezes, decretou falência e deixou a obra incompleta. Aborda-se aqui a questão das empreiteiras que faliram e prejudicaram a vida de muitos brasileiros. O diretor mostra, num tom meio cômico - o que acaba perdendo a intensidade da crítica, trabalhadores que nada tem (apenas o sonho da casa própria), e milionários, que mesmo falindo e acabando com a vida de centenas de pessoas, continuam vivendo bem. Quinze anos depois do episódio, os operários que trabalharam na construção do edifício e que criaram uma favela ao seu lado, decidem por tomar posse dos apartamentos e organizam uma invasão pacífica. Com o escândalo imobiliário vindo a público, Dr. Sabóia se suicidou e deixou os negócios a cargo de Otávio (Miguel Falabella). Célio (Pedro Cardoso), trabalhando como repórter, é designado a cobrir o caso e, com isso, é obrigado a reencontrar Otávio. Obcecado com o apartamento, Célio aceita a proposta de Otávio de ser seu laranja, em troca de US$ 5 milhões. A situação foge ao controle e o tiro sai pela culatra, fazendo com que Célio se arrependa do negócio feito com Otávio. Desesperado e em busca de Deus, Célio termina por encontrá-lo - numa ótima cena, quando o homem perde todas as esperanças e busca a ajuda divina. É quando ele recebe uma missão que será também sua salvação: convencer Otávio a doar toda sua fortuna aos pobres. Existem portanto muitos conflitos sociais brasileiros, caricaturizados no filme: O operário que trabalhou na construção do prédio e que não tem nem uma casa própria; a classe média, que compra uma casa sofridamente, mas que toma um calote que a deixa em situação delicada; os empresários, que mesmo falindo tem dinheiro em caixa, fazem acordos com políticos e estão sempre saindo por cima; a busca do divino, de desconhecido, quando perde-se as esperanças; a ganância pelo dinheiro, que acaba mudando qualquer personalidade (outra ótima cena do final do filme, quando favelados lotam o prédio para receber o dinheiro). Fizeram do conflito no Paraíso, um micro-brasil, com suas muitas facetas e injustiças. Como filme é uma ótima diversão, mas como crítica social, o tom de comédia tira a força da mensagem.

1 Comments:

At 25 de outubro de 2004 às 14:49, Blogger Caos said...

Título Original: Redentor
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 98 min
Ano de Lançamento (Brasil): 2004
Direção: Cláudio Torres
Roteiro: Elena Soárez, Fernanda Torres e Cláudio Torres
Elenco: Pedro Cardoso (Célio Rocha)
Miguel Falabella (Otávio Sabóia)
Camila Pitanga (Soninha)
Stênio Garcia (Acácio)
Fernanda Montenegro (D. Isaura)
Fernando Torres (Justo)

 

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