Esses Moços
Nota: 7
O filme baiano Esses Moços (2004) abre com um plano de Diomedes (Inaldo Santana) descendo da Cidade Alta para a Cidade Baixa, o acidente geográfico que divide Salvador em duas. A partir dali, é o mundo de baixo que conheceremos - os pobres, os velhos, todos aqueles excluídos do cartão-postal que é a Salvador do Elevador Lacerda para cima.
Diomedes é o retrato da fragilidade. Cego, idoso, vestido como um homem da metade do século passado, parece sem saber para onde ir. No meio de uma praça, é assaltado por um bando de garotos de rua. Uma menina que também vive na praça, Daiane (Chayend dos Santos), decide ajudá-lo, a contragosto da irmã mais velha, Darlene (Flaviana Silva). Daiane adota-o como avô.
Esses Moços é melancólico e nostálgico como a música de Lupicínio Rodrigues que empresta seu nome ao filme. Até o final da projeção, acompanharemos as meninas e o velho pelas desventuras da cidade, mendigando, correndo, banhando-se no mar. Esses moços é melancólico porque Salvador está o tempo inteiro tentando engolir os personagens - no encalço de Darlene e Daiane há um assassino de moradores de rua que quer levá-las para a prostituição da Cidade Alta. E é nostálgico porque Diomedes representa a ingenuidade, cega e senil, de um tempo que já não existe mais.
Nas mãos do diretor José Araripe Jr. as protagonistas tornam-se caricaturas de um universo que parece desconhecido do diretor. Entre o lugar-comum e a insistência em sublimar questões sociais inerentes ao destino das jovens, o cineasta constrói sua obra com um enredo fragmentado, principalmente em seu desenvolvimento.
No desenrolar da história, apesar de todo tipo de provações, as meninas acabam por adotar um desconhecido idoso, a quem passam a chamar de "Vô". Ele se torna tanto um enigma às irmãs - e ao espectador - como também personagem de um potencial conflito entre ambas. Afinal, a mais velha quer explorá-lo como fonte de renda e a mais jovem, como figura paterna.
Será esse o confronto que definirá Esses Moços, que tem um desfecho irreal e longe de qualquer constatação ou crítica mais contundente.
Só pela sinopse já dá para saber o que esperar. Se cabe uma ressalva, no entanto, vale dizer que o trabalho esforçado do diretor José Araripe Jr. não tem no denuncismo o seu foco principal. As boas intenções prevalecem sobre o choque.
Ainda assim, se você é o tipo de espectador que evita filme nacional porque "de miséria já basta o que se vê na televisão", não pense duas vezes e passe longe de Esses moços. A crítica mais amena possível é dizer que não há no filme nada que justifique uma exceção à regra. Se um dia quiser dar uma chance a um cinema brasileiro engajado, não escolha Esses Moços porque você pode se decepcionar em definitivo. Prefira Cidade Baixa, de Sérgio Machado.
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