09 junho 2005

Refém



Nota: 4

A trama é conhecida: um policial tem um trauma muito grande escondido em seu passado e decide mudar sua vida, mas é forçado a encarar de frente os problemas que estavam enterrados. O ator é conhecido: Bruce Willis, famoso principalmente pela série de TV A Gata e o Rato (que no século passado fez certo sucesso na Globo) e pela trilogia Duro de Matar (1988, 1990 e 1995). Assim, quem vai ao cinema já sabe o que esperar: muitos tiros, explosões, dramas baratos, histórias sem sentido, enfim, os clichês dos filmes de ação, certo? Sim e não...

Enquanto mostra porque Jeff Talley (Willis) decidiu trocar o posto de negociador de reféns da SWAT em Los Angeles pelo de chefe do departamento em uma pequena cidade no sul da Califórnia, o diretor francês Florent Emilio Siri, discípulo de Eric Hommer estreando em Hollywood, consegue sair do básico e criar o clima certo para um thriller policial. Além da dor na consciência adquirida em Los Angeles, Talley tem de enfrentar problemas conjugais e uma filha adolescente em ebulição.

Além da interessantíssima seqüência dos créditos iniciais, Siri acerta também ao colocar os garotos-problema invadindo uma casa "apenas" para roubar um carro e se deslumbrando com a possibilidade de se tornarem milionários. O drama dos meninos dentro da casa, se desesperando pela sinuca de bico para qual caminham, e dos reféns - um pai, e um casal de filhos - é um crescente interessante que consegue deixar o espectador irriquieto em sua cadeira.

O problema é que ele acaba caindo nas armadilhas do gênero e do mercado norte-americano quando tem de mostrar a superação de Talley. A partir deste momento, surgem vilões que andam no meio das chamas carregando garrafas de coquetel molotov, donzelas em apuros com ar de Madonna (a santa, não a rainha do Pop) e misteriosos endinheirados sem rosto. A possível ligação destes últimos com o passado de Talley é citada, mas nunca resolvida. Para um filme que quer costurar todas as pontas, Refém (Hostage, 2005) acaba deixando sobras de tecido desfiados por todas as partes.

A seqüência final, que mais parece um faroeste, é a síntese do modo Duro de Matar que tem marcado a maioria dos filmes de Bruce Willis, um ator que não é limitado, mas que precisa ser bem dirigido para fazer sua cara de bebê chorão ficar legal na tela. Claro que um bom roteiro também não faria mal a ninguém. Isso dito, continuemos a nossa espera por Sin City.